A capital paraibana teria tudo para se transformar rapidamente num dos principais pólos culturais do Nordeste. No ano passado, João Pessoa concorreu com Olinda e Salvador ao título de “Capital Brasileira da Cultura”, instituído pelo Ministério da Cultura. Não tinha chance! É inquestionável, no entanto, a qualidade dos nossos artistas e a excelência dos trabalhos artísticos produzidos pelos filhos dessa terra. Baianos, cearenses e pernambucanos também produzem coisa boa, mas a música, o teatro e as artes plásticas da Paraíba encantam a todos que têm acesso aos produtos da cultura made in PB.
Seria redundante falar aqui apenas das virtudes de gente como Sivuca, Zé Ramalho, Chico César, Adeildo Vieira, Gláucia Lima, Horieb Ribeiro, Roberto e Marcélia Cartaxo, Everaldo Pontes, Luiz Carlos Vasconcelos, Clóvis Júnior, Fred Svendsen, Flávio Tavares, Hermano José e centenas de outros talentos da cultura local.
Como não domino bem os outros campos, fico apenas no campo musical, de onde retiro energias diárias para animar o espírito. Preocupo-me fundamentalmente com as precárias condições em que a cultura paraibana (a música, notadamente) se desenvolve na capital do Estado. Em que pese as novas (e louváveis) iniciativas da Funjope e o trabalho ininterrupto, mas tímido, da Funesc, João Pessoa continua sendo uma das praças mais complicadas para a promoção de shows musicais de porte nacional. Um exemplo claro disso, tem sido as apresentações do Projeto Seis e Meia.
Criado no Rio de Janeiro há mais de dez anos, o Seis e Meia só desembarcou em João Pessoa em 2004, pela iniciativa do agitador cultural e vereador Fuba. Depois do primeiro ano de apresentações no teatro Paulo Pontes (Espaço Cultural José Lins do Rego), o projeto foi relocado em 2005 para a praça de eventos do shopping MAG, na praia de Manaíra. Por detrás do remanejamento estava o acirramento de uma disputa política que só atrapalha o desenvolvimento cultural (econômico e social) da cidade.
Desde o ano passado o governo estadual retirou o apoio ao projeto o que, na prática, significou o fechamento das portas das casas de espetáculos de melhor qualidade da capital (Paulo Pontes e Santa Roza). A prefeitura decidiu então bancar a empreitada, buscando parcerias com a iniciativa privada. Foi assim que o Seis e Meia foi parar num dos piores lugares para a realização de shows musicais como esse do perfil do projeto.
Eu fui assistir pessoalmente quatro apresentações do Seis e Meia depois que ele saiu do Espaço Cultural: Ângela Rorô, Luiz Melodia, Luciana Melo e Jairzinho e, na semana passada, Rita Ribeiro. Desde a primeira vez havia percebido que o novo local é inadequado e representa, na prática, uma falta de respeito aos artistas convidados (tanto os de fora, quanto os de casa!). É fácil perceber isso para quem está acostumado a assistir shows desse tipo em salas como a do Paulo Pontes ou a do Teatro do Parque (no Recife, onde morei por alguns meses de 2005).
Em primeiro lugar, ali não há propriamente um palco. Os artistas são obrigados a se apresentarem sobre uma espécie de tablado de pouco mais de meio metro de altura, o que os deixa quase na mesma perspectiva da assistência. Grossas colunas dificultam a visão ampla do “palco”, impedindo vários ângulos de visão do público e, principalmente, dos profissionais da imprensa encarregados em capturar as imagens dos shows.
Por se tratar de um salão de festas (talvez mais apropriado para bailes de debutantes ou festas de formaturas), os assentos (cadeiras plásticas) ficam dispostos num mesmo nível, o que torna a assistência ainda mais complicada (principalmente para a gente de baixa estatura que senta nas fileiras posteriores). Mas os problemas do Seis e Meia no MAG não param por aí: o camarim para os artistas foi improvisado numa sala de apoio, sem banheiro ou qualquer coisa que pareça uma mesa de maquiagem. Sem conforto, apertado e mal localizado (no caminho dos sanitários), o “camarim” do MAG é vergonhoso.
Enquanto que as versões do projeto no Recife e em Natal ocorrem nos luxuosos e tradicionalíssimos Teatro do Parque e Alberto Maranhão (respectivamente), em João Pessoa artistas e público são submetidos às condições vexatórias do salão do MAG. A capital paraibana, nesse caso, está em desvantagem até em relação à Campina Grande, onde o projeto também passou a ocorrer, tendo o Teatro Severino Cabral como palco. Para quem não sabe, o teatro campinense é considerado uma das melhores acústicas do país. Ah, acústica é um palavrão no salão de festas onde o Seis e Meia acontece em João Pessoa.
A localização do MAG é outro problema. Situado na orla norte da cidade, o lugar onde o Seis e Meia está acontecendo é um dos locais menos indicado para abrigar shows de um projeto que tem em sua proposta inicial oferecer, a preços populares, atrações nacionais em concertos abertos por músicos locais.
Mais do que revelar como as picuinhas políticas paroquiais atrapalham o crescimento cultural da cidade, a realização do Seis e Meia no MAG shopping evidenciou entre os consumidores de cultura daqui a emergência que João Pessoa tem pela instalação de um teatro municipal. A gente merece!
Texto escrito originalmente para o Portal das Entidades