domingo, março 21, 2010

Vergonha de voar – porque a Paraíba não é digna de um aeroporto competitivo e moderno?

Por Dalmo Oliveira*

Um grupo de jovens comissários de bordo de uma das companhias aéreas que mantém conexão no aeroporto da cidade de Santa Rita, na região metropolitana da capital, João Pessoa, desembarca pela primeira vez no Castro Pinto. Uma das aeromoças comenta com os colegas voadores:

- Esse aeroporto é bem charmosinho, né?!

Talvez a aeroviária tenha sido apenas gentil ao achar charme na pequenez e simplicidade do principal aeroporto paraibano. Mas para quem costuma pegar avião, saindo do Nordeste para os principais destinos nacionais, sabe que chamar o Castro Pinto de “charmoso” é apenas um cordial eufemismo.

Se os nossos visitantes fossem julgar a Paraíba pelas dimensões de seu aeroporto, certamente nosso primeiro “cartão de visitas” não estaria compatível com o nível de desenvolvimento, muito menos com o estoque de belezas das “terras tabajaras”. Além disso, é preciso reforçar o apelo à falta de acessibilidade às plataformas de embarque. O Castro Pinto deve ser um dos poucos aeroportos de padrão “internacional” que possui apenas o chamado “piso superior”.

É realmente humilhante ver os passageiros atravessarem parte da pista a pé para tomarem seus acentos nas aeronaves que decolam do CP. Para pessoas com alguma limitação de locomoção, embarque e desembarque aqui se torna uma aventura vexatória.

A impressão que eu tive quando anunciaram o final da reforma do CP foi de que o aeroporto havia passado apenas por uma espécie de maquiagem. Granito por todos os lados na portada principal e nos saguões, mas nada significativo ao que se refere à logística de embarque e desembarque. A área construída permaneceu praticamente a mesma.

Agora ficamos sabendo que o CP não dispõe de equipamentos mais modernos que permitem a decolagem e aterrissagem de aeronaves em condições climatológicas especiais, mesmo considerando que a localização geográfica do CP é uma das melhores entre os aeroportos em todo o país: longe das principais zonas urbanas e no topo do magnífico planalto santarritense.

É claro que não dá para comparar nossa pujança turística com a de uma Recife ou de uma Natal, ou Salvador ou ainda de uma Fortaleza. Mas parece evidente que, se tivéssemos um aeroporto mais bem equipado e melhor estruturado, automaticamente atrairíamos mais e mais companhias aéreas e, consequentemente, mais turistas do que aqueles trazidos e levados pelos oito vôos diários do CP. Essa equação me lembra a história do ovo e galinha: não atraímos turismo porque temos um aeroporto fuleiro, ou temos um aeroporto fuleiro porque não conseguimos potencializar nosso turismo???

Penso que podemos conciliar o “charme” do CP com sua importância estratégica para o turismo made in PB. Aqui não seria necessária uma reforma que transformasse o CP numa espécie de shopping center “temático” pra gringo ver, como ocorre, por exemplo, com o aeroporto de Brasília ou o Dois de Julho, na capital baiana, que a partir das 23 horas se transforma num deserto. Nosso aeroporto também tem a vantagem de não oferecer aos usuários a visão desagradável de uma espécie de garagem de luxo dos aviões militares da FAB, como ocorre na vizinha Natal. Nem está no coração da metrópole como em Recife e Congonhas.

O que os paraibanos queriam ver é tão somente um aeroporto moderno e funcional, que mereça ser chamado de “aeroporto”, e não uma espécie de “entreposto” aeroviário, entre Recife e Natal. Outra vocação possível do CP seria como integrador regional para vôos comerciais de menor porte entre as principais capitais nordestinas e para as grandes cidades do interior nordestino, a exemplo, do que já ocorre entre Recife e Salvador, via WebJet.

Mais do que respeito, a Infraero, a ANAC e o Ministério da Defesa, a quem elas são subordinadas, deveriam dispensar aos paraibanos aquilo que qualquer lugar minimamente desenvolvido espera nessas ocasiões: condições de competitividade.



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*Jornalista, servidor público e turista de eventos.