terça-feira, julho 12, 2011

Caixeiras do Divino fazem apresentação na Paraíba

Caixeiras do Divino: do Maranhão para o mundo (Fotos: Fabiana Veloso)




por DALMO OLIVEIRA
Maria José Reis de Menezes (Zezé de Iemanjá), Maria de Jesus Belfort Ferreira, Rosa Maria Marques Barbosa (Rosa Barbosa), Rosenilde de Jesus Santos (Rosa Dias), as Caixeiras do Divino do Maranhão, fizeram uma apresentação inesquecível na noite da última segunda-feira, dia 11, na nave principal da Igreja de São Francisco, em João Pessoa.
O público, seleto, sequer preencheu todos os lugares dos bancos de madeira da milenar igreja, mas quem foi ver o “show” teve a rara oportunidade de testemunhar um precioso pedaço da riqueza cultural brasileira. De maneira totalmente acústica, a música produzida pelas Caixeiras do Divino tomou o ambiente com uma sonoridade que nos remeteu imediatamente ao imaginário ancestral das nossas existências.
O canto puro entrecortado com as marcações simples dos tambores (caixas), cria um efeito sonoro e estético típico daquilo que amalgamou a miscigenação cultural da nação brasileira.  O canto religioso que embala as louvações ao Divino Espírito Santo lembra as incelências e ladainhas secularmente reproduzidas pelas senhoras dos sertões e interiores Brasil afora.
Ritos e ritmos têm origem no sincretismo religioso
O tambor monta a base hipnótica para uma espécie de catarse profunda que a música causa em nossas cognições auditivas. A cada peça, uma das caixeiras levanta explica a fundamentação religiosa e ritualística da música a ser tocada. “Alvorada”, “Alvoradinha”, “Salva Coroa”, “Apareça Santa Crôa” e as músicas de saudação à “Senhora Santana”, à “Nossa Senhora da Guia” e “Espírito Santo Dobrado”.

Sonora Brasil – Finda a 34ª apresentação da turnê, fomos entrevistar as caixeiras. Sentadas junto à parede de azulejos azuis, elas revelaram um pouco sobre suas vidas e de como entraram no circuito 2011/2012 do projeto Sonora Brasil do SESC. Zezé de Iemanjá nos disse que o grupo foi montado em fevereiro para as apresentações do projeto, mas que tocam na festa do Divino em diversas comunidades há mais de 30 anos.
            “Eu comecei em 1981. É uma tradição que passa de pai pra filho, dos avós. Começou em Alcântara e veio de Portugal”, diz Zezé. Ela disse que o ritual começou na Casa das Minas (terreiro de tambor de mina), de culto de matriz africana, de Nação Nagõ, que é a casa mais velha que tem lá em São Luiz, fundada em 1840.  Nos terreiros, a celebração do Divino, dentro do sincretismo religioso, ocorre no Dia de Pentecostes, que é o dia do Divino Espírito Santo.
Zezé de Iemanjá toca caixa há 30 anos
            O circuito começou nos mês de maio em São Luiz e já passou por várias capitais e cidades brasileiras. No dia anterior elas se apresentaram em Campina Grande. A última apresentação deverá ocorrer em 13 de agosto em Maceió.
            Depois desta data as senhoras caixeiras retornam às suas comunidades e à rotina de atividades ligadas às tradições locais. Maria de Jesus, que é quilombola da comunidade de Santa Rosa dos Pretos, no município de Itapecuru, diz que quando começa o verão ela tem contratos para tocar em festas da região. Já dona Rosa Dias revelou que “hoje, lá em minha casa, estão derrubando o mastro da festa”.
            Zezé explica que as caixas já estão sendo confeccionadas por mulheres também. Os tambores são feitos de frande, com aros e semi-aros de madeira de jenipapo e couro de cabra.
            O grupo está se preparando para gravar um CD com o repertório apresentado no circuito do Sonora Brasil. Segundo Rosa Barbosa, provavelmente as gravações ocorrerão num estúdio no Recife, mas ainda sem data definida. O Sonora é um projeto de “formação de ouvintes musicais”, que tem como objetivo desenvolver programações identificadas com o desenvolvimento histórico da música no Brasil.