quinta-feira, janeiro 19, 2012

Último moicano da poesia marginal lança livro em Jampa

Carneiro formatou sua estética na Paraíba (Foto: Dalmo Oliveira)

            Iverson Carneiro ainda tem dificuldades na pronúncia dos quês e dos cês. Os cabelos ficaram rareados. A barriga já está protuberante. Antigo cacique da tribo hippie paraibana, esse escritor paraense, há vários anos radicado no Rio de Janeiro, pode ser considerado o último dos moicanos de uma outra tribo que, nos ano 80’s, era conhecida como a dos “poetas marginais”.
            Carneiro ganhou notoriedade no meio universitário e underground da Paraíba nos gloriosos anos 80’s pelos seus poemas pornográficos (ou, pornofônicos, se preferirem), recitados invariavelmente em performances radicais, onde sua dicção especial chamava a atenção.
            Terça-feira passada eu estava meio de bobeira e li nos jornais que o “velho moleque” faria lançamento Tardio) de seu livro de poemas "Moleque Velho" (Observando Edições - 2005), no lendário Teatro Lima Penante, ali na encruzilhada das avenidas João Machado e Trincheiras.
Beto Quirino é fotografado por Iverson durante sarau improvisado
            Antes do lançamento, propriamente dito, Carneiro ofereceu ao “público seleto” um recital com poemas do livro e outros de sua carreira. Aproveitou para chamar ao palco amigos poetas paraibanos presentes à platéia, como Pedro Osmar e Beto Quirino. 
            Logo o recital virou sarau improvisado, numa oportunidade única para uma platéia com menos de 20 pessoas. Em seguida, o anfitrião “estrangeiro” iniciou a sessão de autógrafos e dedicatórias, com direito a refrigerante.
            Eu perguntei a ele o que ficou dos quase 15 anos de Paraíba em sua poesia, depois que ele passou a morar noutro canto. Iverson revelou que o convívio com os repentistas e emboladores Zé Mousinho e Cachimbinho trouxe para sua estética a métrica das cantorias populares e da literatura de cordel, que incorporou tanto ao seu trabalho escrito, quanto cênico, já que ele é professor de teatro na rede pública do Rio de Janeiro.
Agora o ex-marginal faz até dedicatórias (Foto: Fabiana Veloso)
            Carneiro também falou sobre a experiência de ter participado da fundação do Movimento dos Escritores Independentes (MEI) que aglutinou alguns “marginais” na cena cultural alternativa e política em João Pessoa no final dos anos 70’s. Ele disse que a essência do movimento era a mesma do espírito libertário que animou o Jaguaribe Carne, sem regras ou estatutos. Apenas a liga das afinidades ideológicas e estéticas. “Foi nessa época que comecei a inserir a música nos meus recitais, mesmo desafinado como sou, porque o Pedro Osmar nos ensinou que não precisava saber cantar ou tocar para fazer música e arte”, lembra Carneiro, com um riso largo. 
            Para ele, a atualidade já não permite mais se falar em poesia marginal. “A galera já escreve pensando em algum tipo de mercado, mesmo que seja o alternativo”, analisa. Ele diz que o movimento que participou era muito mobilizador. “Tinha gente fazendo a mesma coisa em Recife, em Belém, em Porto Alegre, em São Paulo, no Rio. Se naquela época nós tivéssemos a internet, teríamos feito uma bagunça muito grande, não digo a revolução, mas uma bagunça maior, com certeza”, diz o poeta.
"Com internet, teríamos feito uma grande bagunça", diz o poeta
            Iverson deve estreitar novamente os laços com a Paraíba esse ano. Recebeu convite da FUNJOPE para lançar outro livro, prestes a sair. Diz que voltará à João Pessoa no final do segundo semestre. Veio acompanhado de sua filha, Manaíra Carneiro. Jovem cineasta,           Manaíra, nascida em Jampa, estudou roteiro na escola de cinema Darcy Ribeiro e atualmente faz parte da Oscip Cidadela - Arte, Cultura Cidadania, que promove oficinas de cinema no complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Ela ministrou uma oficina de roteiro cinematográfico para mulheres, nos dias 13 e 14, no Instituto de Educação da Paraíba.