sexta-feira, maio 28, 2010

O PT da Paraíba é um fenômeno

Recentemente a imprensa paraibana divulgou uma pesquisa de intenção de voto com o eleitor local onde a candidata do Partido dos Trabalhadores, Dilma Rousseff, despontava em larga vantagem entre os candidatos a substituírem o mitológico Lula da Silva. Mesmo com toda a desconfiança que temos desse tipo de pesquisa às vésperas das eleições, fiquei surpreso como a Dilma era benquista pelo eleitor da Paraíba, com um índice beirando os 70% das intenções de voto.

Mas a pretensa votação da candidata lulista na Paraíba me fez refletir sobre um realidade curiosa: porque essa aceitação do PT não reflete também para os candidatos petistas tabajaras? Porque os paraibanos têm votado massiçamente em Lula (e agora em Dilma), mas não votam nos candidatos do PT local?? É como se fossem até de partidos diferentes...

Lembro que o último candidato a governador que o PT paraibano lançou, o professor Avenzoar Arruda, não conseguiu atingir 5% da votação. A legenda também não consegue, historicamente, emplacar deputados e senadores. Na capital, João Pessoa, o número de vereadores da legenda também é irrisório. Porque será que o PT cresceu sua bancada no país inteiro, mas encruou na Paraíba?

Acho que uma primeira razão é o fato de o partido fazer questão de mostrar para a população que, na Paraíba, continua alimentando uma divisão interna tão irracional que não consegue consenso para nada. A disputa pelos comando locais continuam fazendo do PT paraibano seu principal inimigo. Traições, expulsões se juntam a uma combinação peculiar de políticos inescrupulosos e autoritários que encontraram na legenda petista local o campo fértil de suas carreiras personalistas.

Dessa forma, homens e mulheres de bem, que fundaram o partido na Paraíba, acabam sendo confundidos com personalidades de caráter duvidoso na disputa dos parcos votos destinados aos candidatos do partido. É preciso observa ainda que o partido deixou ingressar em suas fileiras figuras pesadas da tradicional política paraibana, como a ex-deputada Lúcia Braga. Ao tempo em que afastou militantes promissores como o ex-prefeito Ricardo Coutinho.

Mas o que mais atrapalha o progresso do PT no estado continua sendo sua baixa auto-estima. Nos últimos anos, sob uma visão estratégica equivocada, o partido preferiu o caminho fácil e preguiçoso das alianças partidárias, deixando de disputar os principais cargos executivos nas maiores cidades do estado e também ao Palácio da Redenção. Dessa maneira, os comandantes-em-chefe da legenda na Paraíba assumiram o triste papel de coadjuvantes no mercado da política partidária local.

Por causa desta postura, Luciano Cartaxo, atual vice-governador, não conseguiu manter sequer seu nome na chapa majoritária do peemedebista José Maranhão para as eleições deste ano. De maneira semelhante, o deputado Luiz Couto não ousa disputar uma das vagas ao Senado, conformando-se apenas em tentar manter seu mandato na Câmara Federal.

A autofagia petista leva o partido do presidente Lula a se contentar com as migalhas que sobram dos partidos tradicionais que monopolizam a política partidária paraibana. Em 2010 veremos qual a repercussão desta postura para aqueles que ainda crêem que o PT pode ser uma alternativa à política fisiologista e ultrapassada que se pratica por esses rincões.

Literatura em desencanto

É lastimável acompanhar a decadência intelectual de alguém que fez fama como sendo a fina flor da intelligentzia paraibana. O ocaso do jornalista e "multimídia" Carlos Aranha é uma dessas situações vexatórias a que nenhum pretenso literato mereceria passar. O mais cruel é a obrigatoriedade de escrever publicamente de forma cotiadiana por conta do seu ofício jornalístico.

Antigamente eu curtia ler os devaneios memorísticos de Aranha na sua coluna "Essas Coisas", no Correio da Paraíba. Não imaginava como o cara podia ter tanta coragem de expor coisas tão somente ligadas ao seu interesse pessoal, memórias familiares ou causos sobre amigos artistas mais chegados. Na maioria das vezes, informações que só interessam a um seleto grupo. Mas era bacana poder ver a liberdade de escrita dum cara que flertou de perto com o movimento tropicalista, contando suas aventuras e (desventuras) no circuito alienado de uma espécie de versão flower power tupiniquim.

Mais recentemente, ver Aranha ocupar o espaço privilegiado daquilo que seria o lugar do Editorial do CP me dá vertigem. Primeiro porque não entendo como um veículo "engajado" como o CP abre mão de ter seu Editorial. Depois por perceber que para Aranha, aquele espaço é pesado demais para o exercício de uma literatura pulp fiction.


Quando Carlos Aranha anunciou sua disposição de concorrer a uma cadeira na Academia Paraibana de Letras eu pensei: "É muita coragem!". Mas ele conseguiu e hoje é um dos nossos imortais. Ficava imaginando como um cara pop feito Aranha se encaixaria num universo tão naftalínico como aquele, mas parece que os odores da APL lhes renovaram os pulmões. Agora vejo que a obrigação à imortalidade literária o leva a uma humilhante auto-exposição nas páginas do Correio.

Que descanse em paz!