terça-feira, junho 15, 2010

Intercom discute protagonismo juvenil na mídia













Não estava na programação oficial, mas acabei participando de três momentos diferentes da programação do 7º Congresso de Ciências da Comunicação na região Nordeste (Intercom Nordeste 2010), nos dias 11 e 12, na cidade de Campina Grande. Na sexta-feira, 11, a partir das 9h30, integrei como debatedor o painel “Protagonismo juvenil na mídia regional e nacional”.
Tendo como mediador meu ex-orientador de monografia da graduação, Moacir Barbosa de Sousa (UFRN), o painel contou também com as professoras Doutoras Nelia Rodrigues Del Bianco (UnB) e Silvia Garcia Nogueira (UEPB), reunindo um público atento no Salão Circular do Centro de Convenções Raymundo Asfora.
De forma um tanto quanto improvisada, foquei minha fala em dois tópicos centrais: 1) Juventude & Comunicação comunitária; 2) Mídia étnicorracial & protagonismo da juventude negra.
Inicialmente é preciso observar que nos últimos anos, especialmente, no período de gestão do governo Lula, ocorreu um fomento visível às políticas públicas para o segmento da juventude, entre as quais se destacam projetos como Pro-Uni. É nesse período também que as universidades públicas nacionais passam a adotar de forma mais incisiva mecanismos de reserva de vagas para o ingresso no ensino superior, beneficiando jovens oriundos do ensino público, de famílias de baixa renda e jovens negros. Sem esse tipo de incentivo ficaria difícil fomentar o protagonismo vivido pela juventude na atualidade brasileira.
Por outro lado, parece-nos evidente observar que há uma certa sinergia entre a dinâmica juvenil e o fazer comunicacional, ainda mais numa atualidade em que as novas tecnologias da comunicação estão cada vez mais acessíveis. Cada vez mais falantes, cada vez mais interativos, os jovens procuram a Comunicação como uma espécie de extensão de suas facilidades em assimilar os novos tempos e desafios.
A busca por atividades profissionais ou amadoras no campo da Comunicação tem sido cada vez mais uma opção prioritária da juventude. No painel eu contei uma experiência que ocorreu comigo mesmo: quando eu completei 16 anos minha tia Neves Oliveira chegou para mim e inquiriu “Tá na hora de você arrumar um emprego. Eu tenho um amigo que trabalha na Rádio Cultura e outro que é gerente numa loja de tecidos. Qual desses lugares você prefere?”. Evidentemente escolhi a primeira opção e por isso escolhi o vestibular para Comunicação Social.
Noutro aspecto, destaquei o protagonismo dos jovens na chamada comunicação comunitária, notadamente no que diz respeito às rádios, especialmente pelo fato de ter iniciado nos últimos anos uma militância mais orgânica através da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária na Paraíba (ABRAÇO-PB).
Tenho percebido a presença majoritária da juventude no movimento de RadCom, fundamentalmente, nas comunidades em que o Ministério da Comunicação ainda não deu a concessão para o funcionamento das emissoras comunitárias. No ano passado, por exemplo, participei de um evento organizado pela ONG Catavento, com sede no Ceará, que reuniu cerca de 40 comunicadores comunitários paraibanos em João Pessoa. Me surpreendeu o nível de comprometimento dos jovens com o tema-foco da oficina, o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Por fim, toquei rapidamente num tema que tem se tornado cada vez mais caro para mim: a mídia étnicorracial como espaço para o exercício da cidadania da juventude afrodescendente. Pude me convencer disso durante a primeira Conferência de Comunicação, dezembro passado em Brasília.
Participei do evento como observador extra-oficial, atuando mais ativamente no GT 15, cujo eixo-temático foi “Cidadania: Direitos e deveres”, com tema “Respeito e promoção da diversidade cultural, religiosa, étnicorracial, de gênero e orientação sexual”. O protagonismo de jovens militantes foi decisivo para a aprovação de propostas como a “Criação de um programa de comunicação para a juventude negra, que ofereça espaço e capacitação na área de produção e reflexão sobre atividades midiáticas e audiovisuais, além de editais para o financiamento de equipamentos necessários à atividade de comunicação”.
Cresce também o número de veículos de comunicação (e de organizações não-governamentais) diretamente vinculados à questão da promoção da igualdade racial, como o jornal Ìrohín, o Nosso Jornal, o Instituto de Mídia Étnica, o Instituto Steve Biko e as Comissões de Jornalistas pela Promoção da Igualdade Racial (Cojiras).


A discursividade neodifusionista da ciência encomendada



No último dia 8, eu participei de uma mesa-redonda dentro da programação do II Encontro Nordeste de Jornalismo Científico, no auditório do Departamento de Psicologia, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no campus de Bodocongó. Com o tema “Inovação, Comunicação e Apropriação do Conhecimento Científico”, dividi o temário com a professora Simone Bortoliero (UFBA) e com o professor Marcelo Germano (UEPB).
Na ocasião apresentei um esboço do anteprojeto de Doutorado que pretendo desenvolver futuramente, intitulado “A discursividade neodifusionista da ciência encomendada”, que tem por base pesquisas iniciadas durante o curso de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, que realizei entre os anos de 2005 e 2007 na Universidade Federal de Pernambuco.
O texto destaca a relevância das principais hipóteses verificadas durante a investigação anterior, que resultaram na dissertação “Linguagem científica e tecnológica no jornalismo da Embrapa - Anotações sobre discursos no relise difusionista”. 
Entre as principais conclusões, verificamos que as assessorias de imprensa da Embrapa estão inseridas dentro de um sistema de divulgação científica de base midiática, agindo como mediadoras de informações oriundas diretamente de fontes científicas, distribuídas à imprensa de forma direta ou através de gatekeepers.
Outra conclusão é que o discurso de divulgação científica, disponibilizado numa superfície discursiva, viabilizada pelo jornalismo, constitui-se num dispositivo simbólico específico no processo de construção de determinada realidade, marca da disputa simbólica por espaço e lugar de fala/enunciação. Isso implica que o relise produzido pelos profissionais das assessorias de imprensa da Embrapa seria uma espécie de aperfeiçoamento de uma categoria de comunicação científica de “segunda mão”, que re-contextualiza o discurso-primário produzido pelos cientistas, entendendo a mídia como o cenário social privilegiado da atualidade onde o discurso sobre ciência  e  tecnologia  é  re-apresentado  pelos  jornalistas.
No campo mais específico da análise de discursividades, podemos afirmar que a re-apresentação discursiva no jornalismo científico é apenas uma re-textualização do  texto-fonte da ciência, e essa modalidade enunciativa configura-se em discurso-usuário,  ao  percebermos  o discurso do  JC na mídia fomentado  por  formações  discursivas  oriundas  de  campos  e matizes discursivos diversos. O discurso-usuário nutre um neodifusionismo midiático, que se configura como um tipo de enunciação monológica  na  textualização jornalística do discurso  científico.
Outra hipótese é que jornalismo empresarial e difusionismo institucional se uniram para produzir um novo artefato comunicacional, que passamos a denominar de relise neodifusionista. Nessa perspectiva, a mídia atuaria como uma espécie de difusora central, estimulando a adoção ou rejeição de inovações e assumindo importante papel na consolidação de ideologias e nas disputas do poder simbólico institucionalizado.
Culturalmente invasivo, o jornalismo neodifusionista usa estratégias discursivas de convencimento e persuasão a partir de discursos importados da publicidade e do marketing, numa performance sintomática  do   jornalismo da atualidade.
A identificação de representações sociais (e discursivas) das ciências e da tecnologia será uma das primeiras estratégias metodológicas, com o intuito de verificar se (e como) contribuem para a formação de uma cultura cientifica crítica para o público. Além da Análise Crítica do Discurso, a pesquisa se funda na Teoria da Representação Social e nos referenciais epistemológicos sobre Cultura Científica, Divulgação Científica e Jornalismo Científico.
Para além de análise de recepção, interessa-nos especialmente compreender como se processa o sistema de resposta social (BRAGA, 2006) no campo do jornalismo científico na grande mídia. Quais as estratégias de retorno alimentadas pelo, assim chamado, “público-alvo”. Por outro lado, buscamos identificar os discursos-fonte e os discursos-usuário na discursividade midiatizada da divulgação científica, para medir a relação de dependência e de hegemonia dos campos científico e jornalístico.
A estratégia difusionista tende a ser hegemônica na construção das discursividades comunicacionais no jornalismo científico, fruto da tradição discursiva oriunda do corpo técnico-científico que serve de fonte aos jornalistas das assessorias. Os jornalistas (e demais comunicadores) adotaram essa discursividade re-textualizando as informações técnicas e científicas em formatos comunicacionais neodifusionistas.
            O estudo se justifica à medida que a própria Embrapa ainda não refletiu sobre as conseqüências desta prática discursiva adotada por seus comunicadores profissionais. Não se tem a dimensão do impacto deste tipo de estratégia discursiva na construção de uma cultura científica no âmbito dos consumidores dos produtos comunicacionais embrapianos. Sabe-se, por exemplo, que a priorização na difusão dos resultados de pesquisas, em detrimento à divulgação do processo investigatório, tem contribuído para a fomentação de uma recepção acrítica deste tipo de noticiário.
            Academicamente, o estudo investe numa área da sociologia do conhecimento posta de lado pelas principais escolas deste campo. O difusionismo tornou-se uma teoria datada e fortemente vinculada aos processos desenvolvimentistas, analisados a partir dos anos 60’s por teóricos capitaneados por Everret Rogers .

Estado d’Arte do neodifusionismo
Os estudos sobre o que passou a ser chamado de “neodifusionismo antropológico”, iniciam-se na década de 70. Essa vertente teórica terá Wallesrtein como representante de una reação contra os teóricos do neoevolucionismo. A história escrita é utilizada como fonte indispensável nos estudos neoevolucionistas que se apóia na repercussão dos processos econômicos nas antigas sociedades.
Entre os principais representantes do difusionismo estão Graebner (1877-1942), Smith (1864-1922), Rivers (1864-1922). O difusionismo, seria, por sua vez, uma reação às idéias de um “evolucionismo universal”. Enquanto o evolucionismo preconiza um desenvolvimento paralelo, o difusionismo se aprofunda nos processos que ocasionaram o contato cultural e o intercâmbio entre as diversas civilizações. Os difusionistas defendem que foi o contato entre as culturas que fez com que se estabelecesse um intercâmbio cultural, formador das culturas contemporâneas.
Para se compreender melhor essa teoria é preciso ter em mente o conceito de “empréstimo” ou “contaminação” cultural. Boudon & Bourricaud (1993, p.161) dizem que o processo de difusão tem sua gênese nos estudos de epidemiologia, considerando que difusão pode ser considerado semelhante a “contaminação”:
O processo logístico é um processo fundamental em epidemiologia (o crescimento do número de indivíduos contaminados é proporcional ao número de agentes contaminadores e ao número de indivíduos não contaminados e, por conseguinte, vulneráveis).
Nossa hipótese é de que esse discurso tecnológico neodifusionista prevaleceu na discursividade da divulgação científica e do jornalismo científico. Os profissionais de comunicação, principalmente aqueles contratados para difundir as inovações das instituições de pesquisa, adotam largamente a discursividade neodifusionista.
O resultado dessa contaminação discursiva neodifusionista pode ser verificado no noticiário sobre C, T & I, profundamente pautado pelas assessorias de imprensa dos institutos científicos. O processo de agenda-setting é outro sintoma desta contaminação discursiva no noticiário sobre tecnologia e ciências.
Deve ser ressaltado ainda que mesmo o atual processo de produção científica e tecnológica está intimamente atrelado às demandas institucionais, diferentemente do que ocorria há menos de dois séculos, quando os pesquisadores e cientistas mantinham uma certa autonomia sobre os objetos de suas investigações.
Nesse sentido, a comunicação de ciências e tecnologia tornou-se apenas uma extensão do processo neodifusionista, funcionando quase como uma resposta automática que as instituições científicas e a própria comunidade científica oferece juntamente com os resultados finais da pesquisa.
O jornalismo científico torna-se, assim, refém da discursividade de uma ciência encomendada. Por isso dizemos que o discurso do jornalismo científico é um discurso-usuário, assim como o discurso científico se tornou, invariavelmente, um discurso-usuário da discursividade econômica.