quarta-feira, dezembro 12, 2007

O sonho procrastinado

O sonho procrastinado












Maranhão: fala difícil!



Às vezes acho que o senador Maranhão esquece que nós já chegamos ao século 21. Principalmente quando recorre a alguns arcaísmos do linguajar específico do direitês. Ontem mesmo ele voltou à carga quando os repórteres perguntaram sua opinião sobre a segunda cassação do governador Cássio. Não se fez de rogado e sapecou o verbo “procrastinar” para dizer que o adversário tentaria, a todo custo, retardar a saída, adiando seu sonho de retorno ao Palácio da Redenção.

Imagino que Zé Maranhão, quando usa esse tipo de discurso, tem em mente apenas o eleitorado de sua geração. Ele fala para uma parcela da população que valoriza o doutor que “fala difícil”. É um certo intelectualismo forçado que mais atrapalha do que ajuda o discurso político moderno. Essa mania pela fala rebuscada pode ter sido aquilo que provocou o “apagão” de memória do senador peemedebista no debate televisivo da última eleição, dando a Maranhão uma imagem injusta de senilidade precoce.

Os consultores de imagem e marqueteiros do senador deveriam tentar corrigir esses “vícios” de linguagem do ex-futuro-governador. Além de passar a idéia de que o locutor está ultrapassado, esse tipo de discurso empregado por Maranhão acaba se tornando ineficaz para boa parcela da população, que adota largamente um linguajar mais pop.

Esse é o tipo de desvantagem semântica que Maranhão tem em relação a Cunha Lima, apesar de quê, Cássio muitas vezes exagera na discursividade do campo jurídico, num discurso que é ao mesmo tempo empolado e vazio. As pessoas não estão interessadas mais em pirotecnias discursivas como propaganda da bagagem intelectual dos políticos. Elas preferem um discurso direto, sem arrudeios metalingüísticos, ou disfarces pseudo-intelectualóides.

Na Paraíba grassa ainda o modelo tradicionalista de se fazer política, onde o candidato deve ser forçosamente do time dos advogados. Sem preconceito com a galera jurística, mas hoje em dia o político de sucesso em comunicação com o eleitorado é aquele que domina discursos de várias disciplinas e os usa para destinatários específicos em situações e ambientes específicos.

Para as intervenções de mídia o mais acertado é construir um discurso sóbrio, pontual, objetivo, informativo. Nada de arcaísmos nem anglicismos, tipo stakeholders. O discurso da Administração também soa boçal, com coisas como “pro-ativo” ou “re-engenharia”. O ideal é que o político, ou qualquer outro “homem público” fale à imprensa como se precisasse explicar algo para sua neta de oito anos, claro que tomando o cuidado de não ser superficial, fluido nem simplório.

O último exemplo do senador é riquíssimo: ele usou o verbo transitivo direto procrastinar, que se origina do termo em latin “procrastinare”, querendo dizer apenas que o seu antagonista campinense intenta transferir para outro dia; adiar, delongar, demorar, espaçar, protrair. Mas se a intencionalidade de Maranhão era o uso na forma intransitiva, na verdade ele quis dizer que Cássio tentara “usar de delongas, de adiamentos” (cf. a versão eletrônica do Dicionário Aurélio – Século XXI).

Para o doutor Maranhão não custa lembrar que falar difícil, só em ocasiões especiais, feriados e fins de semana. Durante o “expediente” é melhor usar o velho e simples brasileirês mesmo. Sem firulas, pré-fixos, sufixos ou pós-fixos.