segunda-feira, abril 04, 2011

Grandezas & pequenezas na Paraíba pós-republicana

Por Dalmo Oliveira*













Parte da mídia paraibana adotou, recentemente, um discurso, que tem sua origem no campo político, para adjetivar atitudes dos, assim chamados, “homens públicos” das terras tabajaras (ou seriam potiguaras?). É um discurso que classifica as pessoas por seus gestos de “grandeza” ou por suas pequenezas.
Alguns radialistas e jornalistas adotaram esse discurso difundido, essencialmente, pelos “porta-vozes” do grupo político que responde pelo novo governo. Geralmente, a ideia de “grandeza”, dentro desse esquema discursivo, está intimamente associada a posicionamentos colaborativos, revisionistas ou adesistas. Dessa forma, existe “grandeza”, quando um antigo opositor colabora, de alguma forma, com o novo estabelecimento partidário-ideológico, vencedor do último pleito eleitoral.
Grande, dessa maneira, é o sujeito público que aderiu, ou, como diríamos na Paraíba dos 30's, “virou a casaca”. O reforço desta argumentação está sempre balizado nos ideiais de republicanismo. Então, “ter grandeza”, significa “agir de forma republicana”.
A “grandeza”, por esse prisma, está sempre sendo atribuída aos aliados, aos companheiros, aos seguidores, aos auxiliares e, especialmente, aos ex-desafetos. Essa discursividade não vê “grandeza” em quem não esteja alinhado ao pensamento consensualizado dos “vencedores” gestores de plantão.
É uma estratégia discursiva que está por trás de uma busca da hegemonia do que se convencionou chamar de “pensamento único”. Emir Sader1 explica o fenômeno assim:
O maior debate de ideias do nosso tempo é aquele que opõe o pensamento crítico ao pensamento único. A hegemonia neoliberal impôs o pensamento único e o Consenso de Washington como formas dominantes de enfocar a realidade e orientar as formas de vida das pessoas. Apologia do mercado, desqualificação dos Estados, taxação das políticas sociais como “populismo”, tentativas de desmoralização de tudo o que diferisse do capitalismo e do liberalismo, criminalização dos movimentos sociais e das suas lutas, entre outras fórmulas, foram disseminados pela mídia, pelas grandes editoras, ocupando espaços conquistados pelas grandes empresas monopolísticas.


Independentemente do matiz ideológico, entre nós, o pensamento único é sempre ditado por quem exerce o poder na atualidade. Existe um ditado que reforça essa lógica: “manda quem pode, obedece quem tem juízo!”. Ou seja, se você não estiver de acordo com a discursividade emitida pelo “locutores” do pensamento único do plantão, você está na oposição ou é considerado “autista político”.
Se sua posição for oposta à dos emissários do pensamento único vigente, então, sim, sua performance social será sempre taxada como “pequenez”. O discurso hegemônico tentará sempre apequenar suas tomadas de decisão, seus posicionamentos, sua fala e denúncias.
Desqualificação e diminuição estão na gênese discursiva que opera os conceitos de “grandeza” e de “pequenez” pela mídia política paraibana. Com isso, não importa a ficha corrida do opositor, não importa o quanto ele tenha feito em prol do bem público, de nada vale a estatura moral, ética e intelectual dos adversários: se não concordar com o novo posicionamento hegemônico, suas atitudes públicas serão sempre adjetivadas como “pequenez”.
O que nos assusta, fundamentalmente, em toda essa orquestração discursiva midiática é a facilidade com que nossos “homens de imprensa” se amoldam às novas realidades político-partidárias. Poucos sabem o que determina, de fato, a mudança repentina nas opiniões prestigiosas dos operadores da mídia provinciana.
O fato é que ninguém pode prever o posicionamento dos formadores da opinião pública paraibana de uma eleição para outra. Tudo vai depender das acomodações corporativas. Os pilares basilares do jornalismo ético, cidadão, responsável socialmente não servem de alicerce para a postura profissional de 90% dos coleguinhas da imprensa paraibana. A maioria sequer conhece o Código de Ética da categoria. Quer um conselho: Fuja da briga entre "Daví" e "Golias", desligue a mídia.

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*Dalmo Oliveira é jornalista, formado pela UFPB desde 1991. Mestre em Comunicação pela UFPE desde 2007. Ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba.
1http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/emir-sader-pensamento-critico-contra-pensamento-unico.html