Cerimônia enfadonha e critérios duvidosos marcaram edição 2007
João Pinto, Alessandra Torres, Land e Mislene
Sempre considerei eventos como o Prêmio AETC de Jornalismo uma espécie de mímica da entrega do Oscar do cinema estadunidense. Faz bem ao ego da galera! É quando tiramos o mofado paletó do guarda-roupas e a categoria se confraterniza numa festa que marca, efetivamente, os festejos de fim-de-ano para os jornalistas paraibanos. Num salão romano os coleguinhas montam torcidas organizadas pela cor da corporação que representam.
Na edição 2007 os organizadores resolveram homenagear o jornalista Adalberto Barrreto, que acabou proporcionando a primeira “saia justa” da noite ao apresentar um discurso anti-capitalista numa festa organizada por empresários sem nenhuma vocação socialista.
No ano passado fui pela primeira vez à festa e minha impressão não foi mais otimista do que agora. Esse ano as coisas só se confirmaram. E para não dizerem depois que critico “de fora”, resolvi submeter uma reportagem também à disputa. Por ter saído no Portal Correio e pelo perfil do autor, imaginei que teria poucas chances de premiação, ainda mais sendo avaliado por gente sem experiência profissional prática, como o ex-diagramador Land Seixas.
As web-reportagens premiadas foram de autoria de Clóvis Roberto, do Portal O Norte Online (“Costinha: história da caça à baleia no litoral da PB”); de Vanessa Ferreira, do Portal PS Online (“A modernidade devorou o lambe-lambe”) e de Cláudia Carvalho, do Portal Paraíba.com (“Religião, Arte e Censura”). A matéria de Clóvis é boa, mas peca por focar muito no passado, por isso não tem impacto de atualidade (o principal atributo de noticiabilidade dos manuais de jornalismo), apesar do forte apelo econômico e ambiental.
Do conjunto da premiação, só fiquei realmente satisfeito com a escolha do primeiro lugar em fotojornalismo, com a obra fotográfica de Rizemberg Felipe do Jornal da Paraíba. Já na categoria telejornalismo ficou claro que a matéria de Hariane Arruda, “Trabalho Infantil: Infância Perdida”, veiculada na da TV João Pessoa merecia a primeira colocação muito mais que o showrnalismo de “Crônica para o aniversário de João Pessoa”, de Daniele ‘Basilio’ Huebra, (TV Cabo Branco). O terceiro lugar ficou de bom tamanho para Clara Torres, com a matéria “Tambaba: Paraíso dos Naturistas”, principalmente pela coragem de enfrentar, microfone em punho, todo o “naturismo” dos banhistas na famosa praia paraibana.
A vitória de José Euflávio, do Jornal A União, com a gigantesca reportagem-encarte “A Tragédia da Seca e a luta pela Transposição”, parecia meio óbvia. Pelo volume e qualidade do material, ele se tornou imbatível, ainda mais patrocinado pela máquina do Governo do Estado. Com esse tipo de infra-estrutura, até eu né Euflávio... Nesse caso, também preferiria a matéria de Cristina Fernandes, repórter do caderno Cidades, do CORREIO, que garantiu o terceiro lugar com “Salário maternidade vira negócio”. Mesmo sem ter lido, me parece tocar num tema social atualíssimo e muito mais importante que a polêmica da transposição. Sou mais esse tipo de jornalismo engajado que as matérias com pauta encomendada, como parecem ser as do primeiro e segundo lugares nessa categoria.
Em radiojornalismo a turma do Sistema Correio papou tudo. O primeiro lugar ficou com o jornalista Herbert Araújo, correspondente da Correio em Guarabira, com a matéria “Sapé: Poder e Prostituição”. Alessandra Torres e Mislene Santos, da CBN Notícias, obtiveram o segundo lugar, com a matéria “Clandestino”, abordando a questão do transporte urbano na Capital. Em terceiro lugar, o prêmio ficou com Verônica Guerra, coordenadora de jornalismo da Correio Sat e Edileide Villaça, jornalista e apresentadora da Rádio CBN, que produziram a matéria “Violência doméstica: Até Quando?”.
Numa coisa a premiação evoluiu: passou a premiar os segundos e terceiros lugares, coisa que não ocorreu em 2006. Mas o formato da premiação mostra sinais evidentes de cansaço, tendo como principal sintoma o próprio troféu confeccionado pelo artista plástico Marcos Pinto.
A vocação de Mário Tourinho para MC é latente, mas numa festa pomposa como aquela fica estranho o anfitrião dando uma de Sílvio Santos. Será que iria alterar tanto o orçamento do evento se os promotores contratassem um profissional gabaritado (da própria imprensa tabajara ou de fora) para fazer a condução da cerimônia? Falha da assessora de comunicação da AETC, Eliane Sobral, que pode ser boa jornalista, mas está vacilando quando tenta acumular a função de RP.
O que mais me incomoda, entretanto, é o caráter meramente institucionalizado desse tipo de premiação, onde o bom jornalismo está em posição desfavorável em relação às matérias institucionais, ou em pautas da moda, como turismo e economia. Ali não se premia jornalismo, mas peças de mídia, que em determinados momentos mais parecem artefatos da publicidade.
A comissão julgadora é outro ponto frágil do AETC Awards. Parece-me louvável inserir membros de setores da sociedade, como Ministério Público Estadual (MPE), Associação Paraibana de Imprensa (API) e dos Sindicatos dos Jornalistas e de Radialistas da Paraíba. Mas, imagino que se chamassem alguém de fora, como o pessoal do Observatório da Imprensa, da Fenaj ou da ABI, a credibilidade e sensação de isenção melhoraria.
No caso dos representantes das duas entidades relacionadas ao jornalismo (API e Sindicato dos Jornalistas), considero que, por mais experiência profissional que João Pinto e o Sr. Seixas possam ter na área, não estão preparados para avaliar com embasamento todas as categorias. Imagino que tanto na API, quanto do SJPEPB existam outros diretores com capacidade de avaliação tão boa, ou melhor, que a dos presidentes. Seria o caso da AECT quebrar a hierarquia institucional e convidar profissionais consagrados em cada categoria para avaliar os trabalhos dos colegas.