quinta-feira, dezembro 28, 2006

Jornalismo premiado




Numa festa bacana, dia 13 à noite, um seleto grupo se reuniu para assistir a entrega de prêmios e troféus aos profissionais da imprensa local que inscreveram trabalhos na versão anual do prêmio AETC de jornalismo. O clima era de caricatura tabajara de um desses awards da vida. Confesso que não me sinto à vontade nesse tipo de cerimônia. Além do que, ar-condicionado e gente fumando, definitivamente não combinam.

Apesar de ser uma festa do jornalismo local, a platéia se compunha de espécimes de vários setores: políticos, empresários, militares, clérigos, estudantes e “comunicadores” de toda sorte. Mas a festa era nossa! Para celebrarmos nossa profissão, nosso trabalho de cada dia. Para premiar o produto dessa indústria de contar estórias cotidianas. Por isso mesmo eu estava satisfeito, em ver o reconhecimento de profissionais que são tão pouco valorizados pelos seus empregadores, principalmente aqui na capital onde a média salarial quase não alcança os mil reais.

Cada um dos primeiros colocados levou também para casa um cheque de R$ 2.500,00, mas os segundos e terceiros colocados ficaram apenas com um “troféu” de gosto duvidoso, confeccionado com algo parecendo com material plástico. Pelamordedeus Tourino! Porque não diluíram o valor total da premiação para os três primeiros? Eu não conheço outro prêmio desse porte que só bonifica o primeirão...

Bem, de qualquer forma não deixa de ser um incentivo, para que mais coleguinhas invistam no profissionalismo, na criatividade e na sensibilidade, como fez Eliabe Elon (1º. Lugar na categoria “internet”) no seu artigo “Vida, apenas vida” publicado no portal Paraíba.com. Ou para estimular mais reportagens como a de Michelle Almeida, sobre as conseqüências do desastre da barragem de Camará, veiculada na 98 FM, do Sistema Correio, ganhadora na categoria “radiojornalismo”. Nessa categoria, aliás, as matérias deixaram um pouco a reportagem de lado e partiram muito mais para uma modalidade de campanha de utilidade pública.

Na categoria “fotojornalismo”, Francisco França (JPB) foi o vencedor com uma imagem-flagrante de uma criança em queda livre de cima de um caminhão, que ilustrou a matéria “Transporte irregular coloca vida de crianças em risco”. O segundo ligar ficou com Marcos Alexandre, do Correio da Paraíba, autor da foto “A dor de um pai que perde o filho”, um close de uma vítima fatal de acidente com moto. Bem sintonizada com a linha editorial do jornal, a foto de Alexandre traz fortes traços sensacionalistas. E o terceiro colocado é o colega Xico Morais, do glorioso Diário da Borborema, com uma foto manjada (mas perfeita) de catadores de lixo, cujo sugestivo título é “Homens urubus”.

No telejornalismo, o campeão é Laerte Cerqueira, da TV Correio, e uma matéria especial intitulada “Riquezas de Areia”. Eu teria escolhido a matéria da segunda colocada, Ivani Leitão: “Erosão ameaça a barreira do Cabo Branco”, veiculada na afiliada da Globo, por ser um belo exemplar de jornalismo científico, com fala de várias fontes e excelentes imagens. E o terceiro lugar foi para Michele Almeida, com uma espécie de mini-documentário sobre a Igreja de São Francisco, publicada na TV Assembléia.

A categoria mais importante (Impresso – Texto) foi vencida por Nara Valusca (foto), com a reportagem: “História da Paraíba: As Ligas, os EUA e o Golpe de 64”, publicada no Jornal O Norte. As matérias de Patrícia Braz (A União) sobre Sivuca, e de Toinho Vicente (Correio da Paraíba) sobre a Coluna Prestes, ficaram com as colocações posteriores.

Mestre Gonzaga

A homenagem a Luís Gonzaga Rodrigues é mais uma prova de que o jornalismo opinativo continua dando as cartas no jogo da mídia paraibana. O mestre Gonzaga é mais que um mero “colunista”: dono de um texto conciso e rebuscado, ele está mais para a crônica cotidiana que para o jornalismo, propriamente dito. Nos quatro anos que freqüentei a redação de O Norte, quase não o vi por lá. Acho que já naquele tempo seu Rodrigues mandava o texto por algum office-boy.

No discurso de agradecimento, Gonzaga se excedeu no tempo lembrando as performances de Fidel Castro. A impressão que dava é de que, por conta da fartura de uísques e espumantes, a maioria não estava prestando atenção no pronunciamento. Enquanto isso, alguns coleguinhas passavam de mesa em mesa para fazer a média.
José Nunes aproveitou a solenidade para lançar sua brochura “Gonzaga Rodrigues – Uma vida bem escrita”, pela União Editora. O livreto revela a vocação poética de Gonzaga já na página 21: “[...] Eu queria ser poeta. Vim com esse sonho literário. Chegando aqui, o choque foi que não tinha ninguém esperando a minha poesia”.

E é de poesia e de realidade que se nutre o jornalismo praticado hoje pelos colegas de Gonzaga Rodrigues. Um jornalismo que se desenvolve ao sabor das precisões corporativas e das exigências da conjuntura político-social. Menos romântico, é verdade, mas nem por isso menos sonhador. Por fim, espero apenas que prêmios como esse da AETC sirvam também de alerta aos jornalistas, no sentido de que tudo o que escrevemos e publicamos tem uma repercussão no seio da sociedade, seja refletindo nosso passado, como fez Nara Valusca, ou repintando nosso triste presente, como no texto de Eliabe.