quarta-feira, março 10, 2010

Eva, negra



Confirmada a hipótese de que a humanidade tenha sua gênese na África, parece-nos óbvio que a primeira mulher surgida na face da terra tinha características negróides. Nas Américas, a descoberta do que teria sido o corpo do mais antigo humanóide, é de um indivíduo do sexo feminino, com feições negras, batizada de “Luzia”.

Segundo a mitologia iorubá, Nanã Buruki poderia ser considerada uma Eva mítica da ancestralidade humana. Mas, um tipo emancipado de Eva, que ajuda o companheiro de “paraíso”, Osàlá, na tarefa de criar as coisas e o mundo das coisas. A iabá dos pântanos, das lamas, que reina de maneira autônoma também junto ao campo dos eguns.

A mitologia dos orixás e das iabás é rica em personalidades fortes do universo feminino. Iemanjá, a iabá dos oceanos, adotou o primogênito de Nanã, Obaluaê, orixá também chamado de Omolú, que teve sua nudez revelada por Iansã, a iabá guerreira, dona dos ventos e dos raios, que enfrenta todas as conseqüências em nome do novo amor possível.

A Eva negra africana é influenciada, desta maneira, por várias personalidades vinculadas às diversas forças da criação, que algumas pessoas chamam de “natureza”. Entre as mais exuberantes yabás, ainda temos Oxum, mãe das águas doces, que usa o convencimento e as estratégias discursivas para obter o que deseja.

No panteão dos orixás, ainda existe a figura enérgica de Obá, guerreira que enfrenta e vence quase todos os orixás masculinos, com exceção de Ogun, dando ao universo feminino os dotes da coragem e da força para a guerra.

A Eva ancestral da África é, portanto, a gênese da mulher atual: companheira, independente, autônoma, aguerrida, maternal, amorosa, misteriosa. Evidentemente que no ocidente, onde o modelo matriarcal, foi substituído pelo patriarcalismo machista, muito da essência feminina ancestral se perdeu.

É a ausência dessas referências dos nossos antepassados que nos leva a uma sociedade cada vez mais fria, egocentrista e desnorteada. Perdemos nossa origem feminina em nome duma competitividade capitalista cada vez mais negadora das essências de feminilidade e masculinidade complementares.