segunda-feira, março 14, 2011

Saúde dividida


Por Dalmo Oliveira*


Dentre os serviços públicos, a saúde é a prioridade zero para qualquer cidadão. Deveria ser também para os governantes e gestores públicos. Infelizmente, na Paraíba, entra governo, sai governo, e o serviço público de saúde continua como a pior prestação dos serviços bancados com a arrecadação dos nossos impostos.
A queda do secretário de Saúde do Estado, cardiologista Mario Toscano, é o sintoma mais claro de que a máquina pública anda em situação de pré-coma, afetada, irremediavelmente, pelo vírus daninho da politicagem. Em dois meses de gestão pelos socialistas, o Estado da Paraíba ainda não tem uma definição dos caminhos a seguir nas áreas mais sensíveis.
Na prática, o que ocorre é a falta de quadros técnicos suficientes para gerir os principais setores da saúde no âmbito estadual. Essa defasagem fez com que um grande número de gestores que operavam no governo municipal da capital, João Pessoa, fosse deslocado para funções na enorme máquina estadual.
O resultado dessa manobra inesperada foi o esvaziamento das estruturas de saúde da rede municipal, ocasionando o colapso que assistimos em hospitais geridos pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, especialmente o Hospital de Ortotrauma, em Mangabeira.
Agora, os homens (e mulheres) de confiança do governador Ricardo Coutinho (PSB), na área da saúde, precisam dar conta das duas maiores redes públicas: a da capital e a do próprio Estado. A duplicação das atribuições para uma mesma equipe, evidentemente, ocasionou a inoperância em ambos os âmbitos.
A passada maior do que a perna fez com que os principais programas de saúde, a exemplo, do Programa Estadual de Triagem Neonatal, sofresse solução de continuidade. Significa dizer que o Estado não consegue ainda identificar, através do teste do pezinho, crianças recém-nascidas portadoras da doença falciforme e talassemia. Em âmbito do município, mesmo com uma lei recentemente sancionada pelo prefeito Luciano Agra, o Programa Municipal de Atenção Integral à Pessoa com Doença Falciforme não saiu do papel.
Servidores da saúde que atuam nos PSF’s não receberam qualquer capacitação para diagnosticar e encaminhar pessoas portadoras dessa hemoglobinopatia. Por outro lado, médicos e enfermeiros dos hospitais municipais da Capital não estão preparados para atender adequadamente os pacientes que convivem com a doença, que causa fortes dores nas articulações, AVC e complicações no baço e pulmões.
O cidadão comum, que adoece esporadicamente por causa de uma dengue ou de uma virose, reclama com razão do descaso na saúde pública. Agora imaginem aqueles cidadãos que nasceram com algum problema crônico de saúde, ou os que adquiriram uma patologia a posteriori, como os diabéticos, os portadores de DST’s/AIDS ou hemofílicos e falcêmicos.
É um contingente incalculável de cidadãos com doenças crônicas e permanentes que necessitam de atendimento médico constante. Transfusão sanguínea, internações prolongadas, exames especiais e unidades de tratamento intensivo são algumas das demandas corriqueiras desses cidadãos, que carecem de serviços públicos de saúde sem interrupção, por seja qual for o motivo.
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*Dalmo Oliveira é jornalista e coordenador da Associação Paraibana de Portadores de Anemias Hereditárias (ASPPAH).