É lastimável acompanhar a decadência intelectual de alguém que fez fama como sendo a fina flor da intelligentzia paraibana. O ocaso do jornalista e "multimídia" Carlos Aranha é uma dessas situações vexatórias a que nenhum pretenso literato mereceria passar. O mais cruel é a obrigatoriedade de escrever publicamente de forma cotiadiana por conta do seu ofício jornalístico.
Antigamente eu curtia ler os devaneios memorísticos de Aranha na sua coluna "Essas Coisas", no Correio da Paraíba. Não imaginava como o cara podia ter tanta coragem de expor coisas tão somente ligadas ao seu interesse pessoal, memórias familiares ou causos sobre amigos artistas mais chegados. Na maioria das vezes, informações que só interessam a um seleto grupo. Mas era bacana poder ver a liberdade de escrita dum cara que flertou de perto com o movimento tropicalista, contando suas aventuras e (desventuras) no circuito alienado de uma espécie de versão flower power tupiniquim.
Mais recentemente, ver Aranha ocupar o espaço privilegiado daquilo que seria o lugar do Editorial do CP me dá vertigem. Primeiro porque não entendo como um veículo "engajado" como o CP abre mão de ter seu Editorial. Depois por perceber que para Aranha, aquele espaço é pesado demais para o exercício de uma literatura pulp fiction.
Quando Carlos Aranha anunciou sua disposição de concorrer a uma cadeira na Academia Paraibana de Letras eu pensei: "É muita coragem!". Mas ele conseguiu e hoje é um dos nossos imortais. Ficava imaginando como um cara pop feito Aranha se encaixaria num universo tão naftalínico como aquele, mas parece que os odores da APL lhes renovaram os pulmões. Agora vejo que a obrigação à imortalidade literária o leva a uma humilhante auto-exposição nas páginas do Correio.
Que descanse em paz!
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