Por Dalmo Oliveira
Se eu fosse Deus deletaria de vez dos nossos vocabulários a palavra “inimigo”. A palavra e seu sentido. Talvez nem a tivesse criado, apesar dos aperreios de Lúcifer...
Inimigo não é apenas o contrário de amigo, é muito mais grave. É o que quer destruir você, ou aquele a quem você quer destruir de uma vez por todas. Com essa nova onda destrutiva no Líbano, passei a refletir mais sobre essa história dos inimigos.
Sou leigo sobre a causa do morticínio entre árabes e judeus. Não sou mulçumano nem anti-semita. Mas, cá pra nós, existe inimizade mais feia que aquela do Oriente Médio? Quando Deus desenhou a idéia de inimigos ele pensou na relação entre árabes, judeus e mulçumanos. Um ódio recíproco inexplicável, de origem mística desconhecida. Como se fossem os descendentes de Cahin e Abel, digladiando-se ad infinitum.
A inimizade tem algo de anti-humano. É como se você negasse a humanidade do outro. Como se o outro não merecesse ser humano. O não humano não merece respeito e essa lógica que leva o homem a ser tão agressivo com a natureza. Destruímos tudo ao nosso redor, sem o menor remorso. Tratamos a natureza como nosso maior inimigo e muitas vezes o próprio homem se torna parte dessa vingança.
A inimizade é um sentimento horrível, semelhante à vontade de autodestruição. Ter inimigos é sentisse morto a cada dia. Como se não pudesse olha no espelho. Só em pensar no inimigo dá um embrulho no estômago. Um frio na alma. Quando se cruza com o inimigo você perde o dia. Inimizade estraga felicidade, causa rugas, dar dor de cabeça. Você já imaginou quanto tempo se perde na relação com os inimigos. O que se deixa de fazer enquanto maquina revanches e armadilhas aos nossos inimigos.
A história da humanidade poderia ser escrita pelo prisma das histórias de inimizades. Às vezes, um grande amor pode se transformar numa inimizade indizível. Irmãos se tornam inimigos mortais. A inimizade causa até parricídio. Mas o que transforma as pessoas em inimigos mortais? Nos dias de hoje, certamente sentimentos como ganância, ciúme, inveja são o principal alimento das inimizades.
A vida moderna, plena de situações de competição, de escassez de oportunidades, de frustrações de vários matizes, oferece o clima ideal para a inviabilidade da amizade. O inimigo mora ao lado. Está na rua, no metrô, na fila do banco. Essa sensação de estarmos cercados por inimigos é o principal alimento do terrorismo. No livro 1984, George Orwell descreve um cenário onde a crença no ser humano havia desaparecido. Um estado totalitário fomenta o medo ao próximo. A única relação confiável é com o “big brother”, uma entidade fictícia, que concentra, por meio do terror, toda a atenção e confiança das pessoas.
O rosto do inimigo nem sempre está vinculado à barba e aos turbantes. Nos EUA os cidadãos de Oklahoma descobriram que o principal inimigo não era um estrangeiro vingativo, mas um compatriota revoltado. O principal inimigo pode ser o chefe de estado, o líder religioso ou o político corrupto. Como disse Bob Marley: Seu maior inimigo poder ser o seu melhor amigo e seu melhor amigo, ser seu pior inimigo. Pode ser você mesmo!
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