segunda-feira, maio 30, 2011

Itabaiana e a resistência cultural

Mulheres reconhecidas (Foto: Dalmo Oliveira)

No sábado, 28, acompanhei minha digníssima Fabiana Veloso no evento de entrega da menção do Prêmio Leonilla Almeida, na Câmara de Vereadores de Itabaiana, há 80 quilômetros aqui de casa. Chegamos meia hora antes do horário marcado (20 horas). O prédio estava fechado e com as luzes da entrada apagadas.

Mas já tinha gente lá dentro! De repente, o multimídia e telegrafista aposentado Fábio Mozart sai numa das portas, ainda de bermuda. Eu pensei: “Acho que eles adiaram a história e esqueceram de nos avisar...”. Mas não foi nada disso!

Mozart e Clévia: militância cultural (Foto: Fabiana Veloso)
Britanicamente, a partir das 8h o povo começou a chegar. O auditório ficou pequeno para tantos convidados e algumas pessoas acompanharam tudo em pé mesmo. Quem não conhece o prédio da Câmara pode pensar que ele não oferece acessibilidade, mas há uma entrada lateral, na casa anexa à direita, que permite o acesso à primeira fileira da assistência.

Mas o lugar é mesmo mal planejado. A mesa-diretora dos vereadores fica suspensa numa espécie de altar. Só pode ser acessada pelas portas que ficam atrás da mesa, em formato de U. O auditório é pequeno e íngreme, com batentes altos separando as fileiras de cadeiras. Os gabinetes e banheiros ficam na entrada secundária. Na parede, atrás da mesa-diretora, dois retratos se destacam. Não consegui descobrir quem são os senhores.

Improviso

A cerimônia foi meio improvisada, como as melhores peças da poesia popular itabaianense. Mozart e Clévia Paz se revezaram ao microfone. Aliás, só havia um desses aparelhos disponível. O hino nacional foi executado e traduzido em libras pelo professor Gleibson para um grupo de jovens surdos-mudos presentes à cerimônia. Depois foram anunciadas as mulheres premiadas com a menção do “Prêmio Leonilla Almeida”: Fabiana Veloso, Vilma Coutinho, Rosane Almeida e Patrícia Marsicano, que não compareceu, mas mandou uma representante. Veloso destacou a beleza das mulheres nascidas na cidade, mas fez questão de ressaltar que “Itabaiana também é uma terra de guerreiras”.

Em seguida se deu o lançamento do livro “Confissões esparsas de um rábula”, do jornalista itabaianense Arnaud Costa editado pelo selo Sarvap, da Sociedade Amigos da Rainha do Vale do Paraíba. Ele é pai de Fábio Mozart, um rábula do jornalismo e de mais dois advogados diplomados pela UFPB.

Arnaud (de boné) ouve o filho Mozart (Foto: Fabiana Veloso)
No início da sessão, foi projetado uma entrevista com Arnaud, num vídeo amador em que o velho jornalista conta lembranças se balançando numa cadeira de balanço.
Antes da sessão de autógrafos, ocorreu uma apresentação telúrica do grupo de danças “Meninas do Rio”, mostrando toda a singeleza e simplicidade do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, comandado por Clévia.

Radicado na cidade de Sapé, Arnaud Costa é Mestre Maçom, radialista e jornalista. Fundou o jornal O COMBATE e foi redator d’A FOLHA, o jornal mais antigo em circulação no interior da Paraíba. Edilson Andrade, ex-prefeito de Itabaiana, fez um preâmbulo sobre a vida e a carreira de Arnaud Costa.

E a janta?

Mozart e esse blogueiro (Foto: Fabiana Veloso)
O evento, que marcou o início das comemorações do aniversário de emancipação de Itabaiana, me fez lembrar como é simples a vida no interior do Brasil. Comentei com Fabiana como as pessoas se orgulham pela realização de pequenas coisas. Nesses momentos, a calmaria da cidade é quebrada com a chegadas das gentes de outros lugares.

Com a entrada principal da cidade interditada por causa das condições de fragilidade da ponte que cruza o Paraíba, tive que pedir orientação duas vezes até encontrar o prédio da Câmara. O acesso pela estrada de Juripiranga está terrível, com uma buraqueira, lama e poeira. Entramos pelos fundos da Igreja Católica Matriz. Dali em frente a longa avenida principal da cidade possui duas mãos para os veículos.

Num sábado à noite, Itabaiana estava levemente agitada, com os bares começando a receber a freguesia. O vai-vem de motos típico nas cidades desse porte chama a atenção. Depois do coquetel regado a bolinhos de bacalhau e outros salgadinhos, quis saber dos anfitriões qual o melhor na cidade para buscar uma janta, já que minha fome falcêmica não se aplacara. “Só tem a rodoviária”, me avisou a simpática Maria das Dores Neta. Mudei de planos e pensei em parar no Cajá, no retorno, pra fazer uma boquinha, mas às 23 horas, nem ali havia mais nada aberto onde se pudesse jantar dignamente.

Antes de regressar à capital, ainda demos uma força ao pessoal do Cantiga de Ninar, transportando parte do equipamento de som usado no evento para a sede do Ponto de Cultura. Pela avenida, os carros particulares disputavam a sonorização pública tocando a fina flor das bandas da oxente music. Por algumas horas pudemos ver as diferenças culturais que dialogam na resistente e alegre Itabaiana.

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