sexta-feira, junho 03, 2011

Refletindo sobre o Dia da Imprensa

Fonte: http://mengaoguerreiro.blogspot.com
O mês de junho inicia-se celebrando o Dia da Imprensa logo no 1º dia. A data tem origem na criação do Correio Braziliense, o primeiro jornal não oficial do país, fundado por Hipólito da Costa em 1º de junho de 1808, em Londres, na Inglaterra, para fugir da censura que o regime monárquico impunha à imprensa no Brasil. Na Paraíba, a data foi referenciada por alguns veículos de comunicação e a Associação Paraibana de Imprensa (API) divulgou uma nota em que cita Karl Marx e faz crítica subliminar à dificuldade com que o Governo do Estado se relaciona com setores da imprensa paraibana. Pra variar, não vimos qualquer manifestação do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba.

A nota da API, assinada pela presidenta Marcela Sitônio, fala de um tal "monólogo estéril" imposto pela Secom estadual, mas critica também os comunicadores oportunistas que se submetem ao modelo de pensamento único disseminado pelas agências oficiais vinculadas ao Palácio da Redenção. Aos poucos, a velha API vai ocupando o lugar de fala do sindicato na sociedade paraibana. As razões da mudez da entidade regida por um grupo que se adonou do SJPEPB todos nós, que somos "do meio", sabemos ou imaginamos...

A imprensa paraibana passa por uma das suas maiores crises das últimas décadas. Depois da queda da exigência do diploma superior para o exercício da profissão de jornalista, o mercado local foi assaltado de vez por toda a sorte de "comunicadores", especialmente por radialistas sem qualquer formação mais consistente. Uma realidade que só cresceu nos últimos anos, muito por conta da inércia e inépcia daqueles que foram eleitos para proteger uma categoria que lutou durante anos para fazer valer uma formação superior de nível universitário.

Por anos a fio os jornalistas profissionais paraibanos tiveram que se filiar a um sindicato presidido por alguém sem qualquer formação superior, situação que agora, tardiamente, aquele mandatário tenta contornar, matriculando-se num curso de Jornalismo recém-criado por uma faculdade particular local. Enquanto isso, os rábulas do jornalismo paraibano foram tomando conta dos postos de trabalho nas redações que deveriam estar reservados exclusivamente a quem passou, pelo menos, quatro anos, se preparando numa univesidade.

Esse quadro reflete diretamente no padrão de salários que os jornalistas paraibanos recebemos. Um piso-salarial que beira os mil reais, obrigando os trabalhadores a buscarem jornadas laborativas extras. Conheço gente que responde por três assessorias de imprensa e ainda trabalha em redação de jornal, tv ou site. A precarização do nosso mercado de trabalho é latente e humilhante.

Afora todo esse cenário infernal, é preciso ainda analisar a produção dos conteúdos da imprensa local. O surgimento do diário sensacionalista JÁ!, a mais nova cria do Sistema Correio da Paraíba, dá o tom do nível de apelação que o "jornalismo" paraibano chegou. Algo semelhente ocorre nos programas de TVs ditos "policiais", que oferecem, ao meio dia, o pior cardápio midiático que uma sociedade esclerosada como a nossa poderia produzir.

As iniciativas para refrear a pauta sensacionalista na mídia paraibana, acenada nos últimos meses ainda não passaram da etapa de "carta de intenções" e de uma certa indignação e vergonha por parte de setores da imprensa local contrários a esse tipo de cobertura. Na prática, nada ainda foi feito pelo medo de que a defesa da cidadania, dos direitos humanos, da honra e da cultura paraibana possa ser confundida com uma tentativa de "censura".

Dessa forma, o Dia da Imprensa, em médio prazo, deverá se tornar numa data infame, voluntariamente apagada do calendário comemorativo nacional. A imprensa, aos poucos, perde seu status, outrora glorioso, para a mídia pós-tecnológica, onde o entretenimento sufocou aquilo que conhecíamos como jornalismo.

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