por Antonia Sousa
‘Talhado na Memória’ é tema da exposição do fotógrafo paraibano Gustavo Moura com vernissage nesta quarta-feira (30), às 19, na Galeria da Ladeira, do Ateliê Multicultural Elioenai Gomes, dentro das comemorações do Mês da Consciência Negra. A entrada é gratuita e ficará aberta a visitação até o próximo dia 20 de dezembro, no horário das 11 às 16h.
A exposição consta de cerca de 20 fotografias em preto e branco, tamanhos variados, com imagens clicadas há duas décadas, pelo fotográfo Gustavo Moura quando foi à Serra do Talhado, no município de Santa Luzia, em 1984, com a intenção de conhecer as locações do filme Aruanda, de Linduarte Noronha, retornando à região, em 1986 e 1988, para registrar percepções e a realidade dos moradores do local. Além dos rostos, horizontes, lugares e gestos desta população estão presentes nas fotografias.
A comunidade quilombola da Serra do Talhado- Trata-se de uma comunidade que vem conquistando, dia após dia, o seu valor histórico como quilombola. Serra do Talhado está localizada do município de Santa Luzia, no Sertão paraibano, distante 270 quilômetros da capital. Desde sua formação, na segunda metade do século XIX, o lugarejo ainda preserva características de um quilombo, evidenciadas na resistência dos seus habitantes e na relação com a terra. Dela sai o sustento: seja pela agricultura ou na forma de peças de barro, uma tradição local preservada até hoje.
Descende de negros provenientes do atual estado do Piauí, que chegaram à região do seridó ocidental da Paraíba por volta de 1885. Perceber os traços de uma realidade tão sofrida nos aproxima dos sorrisos e da resistência daquele povo, que expressa sua arte na confecção da louça a na música de seus bons forrozeiros.Indícios tão marcantes fizeram a comunidade receber, em 2004, a certidão de auto-reconhecimento, emitida pela Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura (MinC). A história dos quilombolas foi inclusive tema de um documentário, lançado em 1960, durante o período do Cinema Novo.
Segundo relatos dos quilombolas da região, a comunidade da Serra do Talhado teria surgido por volta do ano de 1880, quando o casal Zé Bento e Cecília estabeleceu uma família naquelas terras. Quem declara isso é o agricultor Sebastião Braz, 78 anos, bisneto dos primeiros moradores e uma das lideranças locais. “A história que eu conto é a mesma que me contaram. Meus pais diziam que ele (Zé Bento) veio do Piauí e acabou criando a família aqui no Talhado”, revela.A versão ganha ainda mais fundamento quando se descobre que todos que nascem na Serra do Talhado são parentes. “São todos aqui de uma mesma família”, conta Gilvaneide Ferreira da Silva, 39 anos, que além de ser sobrinha de Sebastião é casada com o filho do agricultor.
LOUÇAS
Do chão vem o que mais caracteriza a comunidade: as peças em barro que artistas e ceramistas quilombolas produzem. Segundo relato de moradores, a prática de moldar a argila surgiu durante a formação do quilombo. “Meus pais e avós diziam que desde o tempo de Zé Bento e Cecília já se fazia artesanato por aqui. Foi ela (Cecília) quem começou a mexer com o barro”, diz Sebastião Braz.
Além de retratar a cultura quilombola local, o artesanato é, hoje, uma grande fonte de renda para a comunidade. Um dos exemplos é a Associação das Louceiras Negras da Serra do Talhado, que reúne as artesãs do lugarejo, incentivando e valorizando a organização. A associação ajudou artistas e ceramistas a venderem mais peças, inclusive fora da Paraíba.
Para o artista visual e gestor cultural Elioenai Gomes, a exposição ‘Talhado na Memória’ de Gustavo Moura é “uma grande oportunidade para as pessoas conhecerem um pouco mais da história desse povo, suas expressões, seus costumes, crenças e alegrias e vem culminar com o encerramento das comemorações do Mês da Consciência Negra que nos trouxe reconhecimento, credibilidade e um grande fortalecimento para a cultura popular afro indígena”, destacou.
De acordo com Elioenai, o Ateliê Multicultural que fica na Ladeira da Borborema, 101, no bairro do Varadouro, Centro Histórico de João Pessoa está com programação cultural permanente. No próximo final de semana tem mais uma edição do projeto ‘Forró Luz do Candeeiro’ com o melhor do autêntico forró paraibano.Informações pelos telefones 83 8730-9629, 88030786, 81 96479294 ou pelo site www.ateliemulticultural.com.br
Serviço:
Programação do Mês da Consciência Negra do Ateliê Multicultural Elioenai Gomes
30/11 – Exposição Talhado na Memória, 19h
Aberto de 30/11 a 20/12 das 11h às 16h
Entrada franca
Tel. do Fotográfo Gustavo Moura- 9984.4794
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