quarta-feira, fevereiro 08, 2012

João Pessoa terá mais opções à esquerda

Paço Municipal deverá permanecer com partidos progressistas
            As eleições municipais deste ano em João Pessoa vão oferecer ao eleitorado três candidatos de altíssimo nível. Estou falando das candidaturas do petista Luciano Cartaxo, e dos socialistas Estelizabel Bezerra (PSB) e Nonato Bandeira (PPS). Os três possuem, além de uma sólida formação acadêmica em suas respectivas áreas, uma visão especial sobre como a gestão do poder público pode beneficiar os cidadãos que mais precisam do aparato de governo.
            Bezerra e Bandeira eu conheço, com uma certa proximidade, há mais de 20 anos, desde a época em que, recém-chegado de Guarabira, eu passei a conviver, no campus 1 da UFPB, aqui em João Pessoa, com os estudantes ativistas do, assim chamado, “movimento estudantil”.
            Nonato já exercia uma “liderança natural” no movimento dos estudantes de Comunicação e foi um dos idealizadores de uma organização anarquista (isso mesmo, não é lorota!) da qual eu também militei chamada de Coletivo Anarquista de João Pessoa. Uma célula libertária criada dentro da UFPB, que teve vida produtiva entre 85 e meados dos anos 90, mais ou menos. Nosso foco de atuação era o movimento estudantil e comunitário, com algum sucesso na zona sul da Capital.
            Depois nos reencontramos mais à frente dentro das disputas sindicais no Sindicato dos Jornalistas, onde exerci, precocemente, a função de secretário-geral. Bandeira não seguiu o viés sindical, mas se destacou posteriormente em sua atuação na Associação Paraibana de Imprensa (API). Foi a API que abriu os primeiros caminhos para Bandeira ingressar nos ambientes mais tradicionais (e reacionários) da política convencional paraibana.
            Em 1994, enquanto eu consolidava minha carreira sindicalista, Bandeira rumava inexoravelmente para a política partidária tradicional, tornando-se um dos principais articuladores daquilo que hoje conhecemos como “Coletivo Ricardo Coutinho”. Ao contrário do CAJP, esse outro coletivo era regido pelo centralismo “democrático”, um artifício que os grupos de esquerda usam para impor internamente suas vontades sobre as minorias.
            Nesse período eu continuava gravitando em torno de determinadas estratégias práticas do Partido dos Trabalhadores. Especialmente depois que o movimento anarquista local se esfacelou. Relacionava-me bem com a maioria das suas lideranças e gozava de um certo respeito junto aos grupos mais à esquerda.
            Alguns anos mais tarde, já trabalhando e vivendo na Bahia, durante o episódio que culminou com a saída de Ricardo Coutinho do PT, fiz alguns comentários que não agradaram ao atual pré-candidato do PPS, minha crítica ia na linha de não achar inteligente, naquele momento, a desfiliação de RC do PT paraibano. Em minha opinião, Coutinho deveria ter permanecido no partido, aguçando as contradições de seus adversários, mostrando seus equívocos e peleguice. Para mim, a expulsão seria algo mais digno que a simples desfiliação. Ao tomar conhecimento de minhas opiniões, Bandeira teria dito a amigos comuns que me processaria, mas acho que ele chegou à conclusão, sobriamente, de que eu não era seu real inimigo...
            Hoje, o que mais depõe contra Nonato Bandeira é o próprio Partido Popular Socialista (PPS), um partido oriundo de um processo de endireitamento do antigo PCBão, que herdou o que de mais contraditório e inescrupuloso havia na histórica agremiação comunista. Grosso modo, o PPS compõe hoje aquilo que os cientistas políticos chamariam de “legenda de aluguel”. Descaracterizado, nanico, inexpressivo, parasitário, o PPS não consegue se impor enquanto opção competitiva dentro do cenário político-partidário nacional.
            Feminismo de resultados – Estelizabel Bezerra só ingressou pra valer na política convencional nos últimos anos. Dos três, é a mais neófita em se tratando de disputas eleitorais e eleitoreiras. Comunicóloga, como eu e Nonato, também passou pelo antigo DAC da UFPB ali pela metade da década dos 80s. Foi lá, no fabuloso laboratório social-existencial da universidade, que a pré-candidata do PSB, debutou nas lides feministas, onde se tornou uma das melhores revelações do chamado movimento LGBT.
            Em 2002 eu pude conferir o espírito solidário de Estelizabel, quando fomos juntos para o Recife participar da seleção para o mestrado em Comunicação da UFPE. Eu estava doente, saindo duma forte crise falciforme e uma labirintite terrível me impedia de dirigir. Estela prontamente se ofereceu para guiar meu carro e fomos juntos fazer as provas da seleção. Ambos fomos aprovados e ambos não pudemos seguir na pós-graduação naquele ano, por motivos diferentes.
            Na primeira gestão de RC na prefeitura da Capital, Estelizabel se tornou para mim a única referência de confiabilidade dentro da máquina municipal. Em 2008, quando montei a chapa NOVOS RUMOS, para disputar o sindicato dos jornalistas, Estelizabel nos apoiou moralmente, inclusive declarando esse apoio publicamente num dos jornais editados por nossa chapa.
            Não tenho elementos testemunhais para avaliá-la enquanto ativista feminista, a não ser pelo seu posicionamento público irredutível na defesa dos direitos das mulheres e das bandeiras históricas desse movimento. A única crítica que Estelizabel poderia receber nessa seara é de que sua militância tenha se tornado menos orgânica e mais profissionalizada nos últimos anos, inclusive no tocante ao período de gestão à frente da ONG Cunhã.
            Desgraçadamente, o partido de Estelizabel aperfeiçoou aquilo que vou chamar de institucionalização dos movimentos sociais, de maneira geral, inclusive o movimento local de mulheres. Tem sido lamentável o atrelamento e aparelhamento ideológico que o PSB na Paraíba tem feito com as chamadas organizações não-governamentais, especialmente aquelas ligadas ao movimento pela moradia, movimento das mulheres, movimento LGBTT e parcela do movimento negro em João Pessoa, notadamente no que tange à manipulação dentro do chamado “Orçamento Democrático”.
            Especialistas no manejo dos discursos, tanto Bandeira, quanto Bezerra têm condições de oferecer candidaturas extremamente convincentes e competitivas dentro do atual cenário político-partidário às margens do Sanhauá. Bandeira leva vantagem na articulação pluripartidária-empresarial. Bezerra leva vantagem na capilaridade popular, através da articulação e simpatia dos movimentos sociais. Ambos desfrutam das máquinas executivas do Estado e da Capital.
            Seus concorrentes carregam, além de um passado inglório, uma discursividade viciada, desarticulada e meramente fisiologista, exceto... Luciano Cartaxo.
            O pré-candidato petista é praticamente contemporâneo universitário de Nonato e de Estela. A diferença é a área da formação superior, já que Cartaxo, assim como Ricardo Coutinho, é cria do CCS/UFPB, sendo farmacêutico graduado. Essa acaba sendo outra vantagem dele, já que a área da Saúde continua sendo inegavelmente prioritária dentro das demandas de qualquer cidadão minimamente consciente de quais são as obrigações do poder público numa gestão municipal.
            Comparando Cartaxo com os outros dois disputantes esquerdistas à prefeitura de Jampa, o deputado sousense tem outros trunfos a seu favor, especialmente sua já consolidada carreira parlamentar, além de ter exercido a vice-governadoria do Estado da Paraíba por mais de dois anos, segundando o ex-governador José Maranhão (PMDB).
            Esse currículo dá a Luciano Cartaxo um status privilegiado dentro do próprio PT, deixando-o apenas um pouco em desvantagem em relação ao ex-diretor do CCHLA, Luiz Couto, até agora o único deputado federal da legenda na Paraíba. Há que se ressalvar, porém, que Couto é considerado pelos próprios petistas um político inepto quando o assunto é o exercício executivo.
            Do ponto-de-vista da conjuntura política nacional, uma candidatura/vitória de Luciano Cartaxo nas próximas eleições municipais pode significar um salto de qualidade imenso para a cidade de João Pessoa, dentro do cenário das grandes cidades onde o prefeito é do mesmo partido da presidenta da República.
            Se o eleitor pensar direitinho ele pode chegar ao seguinte esquema lógico: as gestões do PSB, com apoio do PT, deram à João Pessoa uma reconfiguração elogiável no modelo de gestão; Se um candidato petista alcançar a prefeitura esse modelo deverá ser aprimorado de maneira incomensurável, levando-se em conta que a gestão Dilma tende a amplificar as melhorias sociais e econômicas em todo o país. É preciso considerar também que o domínio do PT na cena política nacional tende a se prolongar por décadas.
            É tudo uma questão de lógica, apenas!
           
           
           
            

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