Associados sem Norte!
Crise econômica mundial compromete sustentabilidade dos Diários Associados
A sociedade paraibana assiste inerte e estupefata o desmantelamento de uma de suas empresas midiáticas mais antigas. Trata-se do processo de re-engenharia administrativa porque passa o centenário jornal O Norte, onde iniciei minha carreira como repórter em 1991. Nos últimos dias os bastidores da imprensa tabajara fervilham com as informações sobre o empastelamento corporativo do jornal do grupo dos Diários Associados, fundado pelo lendário paraibano Assis Chateaubriand.
Todo mundo sabe que o jornalismo impresso vive uma crise de sustentabilidade desde a consolidação da internet como plataforma para o jornalismo dos tempos modernos. Não bastasse esse fator, O Norte sofre, historicamente, de gerenciamento administrativo ineficiente e, em alguns momentos, perdulário. Muito provavelmente herança maldita do modus operandi consagrado por Chatô.
Sobre o magnata pioneiro da mídia nacional a revista IstoÉ publicou certa vez, quando promovia uma eleição para o brasileiro do século, o seguinte trecho: “(...) Logo ele abandonou o projeto de dar aulas e se tornou um jovem respeitado nas redações cariocas. Mas continuou se dedicando aos tribunais durante três anos. Juntou dinheiro, acumulou contatos e, em 1924, comprou O Jornal. Substituiu artigos soníferos por reportagens instigantes e deu certo. No ano seguinte, Chatô arrebatou o Diário da Noite, de São Paulo. A ética quase nunca constava da tática para crescer. Chantagiava as empresas que não anunciassem em seus veículos e mentia descaradamente para agredir os inimigos. Farto de ver seu nome na lista de insultos, o industrial Francisco Matarazzo Jr. ameaçou 'resolver a questão à moda napolitana: pé no peito e navalha na garganta.' Chateaubriand devolveu: 'Responderei com métodos paraibanos, usando a peixeira para cortar mais embaixo'”.
A primeira providência que os gestores dos DA tomaram foi transferir a superintendência de O Norte para Recife. O matutino já vem sendo impresso há anos nas máquinas rotativas impressoras do Diário de Pernambuco. Talvez essa tenha sido uma medida prudente para afastar a direção do jornal da influência daninha da politicagem paraibana. Sabe-se, por exemplo, que o recém-empossado governador José Maranhão andou mexendo os pauzinhos para boicotar a nomeação do advogado Oswaldo Jurema, que estava sendo cogitado para a direção geral da empresa na Paraíba.
Na semana passada circulou a notícia que a empresa demitiria cerca de 70 pessoas na Paraíba, inclusive boa parcela de jornalistas. Agora sabemos que nem o editor Joanildo Mendes foi poupado. E com ele receberam o bilhetinho azul (na TV e no jornal) Luís Carlos, Sílvio Osias, Luiz Torres, Martinho Moreira Franco, Gonzaga Rodrigues, Ricardo Anísio, Emmanuel Noronha, José Nunes, José Euflávio, José Cabral, Adriana Crisanto e mais alguns.
O presidente da API, João Pinto, teria tentado interceder pelos jornalistas junto à direção dos DA e também junto ao governador Maranhão. Esperava-se que as entidades representativas dos jornalistas publicassem suas opiniões sobre o “passaralho” no grupo de mídia de O Norte & Cia. Mas isso só ocorreu ontem, dia 2/04, com a divulgação de uma óbvia e tosca “nota de repúdio”.
Jornal da Paraíba divulgando Sindicato dos Jornalistas? Estranho, não???
Enquanto isso o Jornal da Paraíba publica matéria falando da “mobilização” para um suposto “ato público” que o Sindicato dos Jornalistas da Paraíba teria feito, ontem, defronte ao Palácio da Justiça, na Praça dos Três Poderes. A notícia não traz fotos do evento. Estranho uma empresa de comunicação investindo nessa informação. É bom demais prá ser verdade!
Os Diários Associados, por sua vez, passam por uma re-engenharia empresarial que se arrasta há quase duas décadas. O grupo passou a investir em gazetas mais populares, vendidas ao preço de meio real. Assim já temos o Aqui DF, Aqui MG, Aqui MA e Aqui PE. É um novo conceito de jornalismo, basicamente de serviço, pouco opinativo ou interpretativo, em tamanho dos tablóides ingleses.
Antigos jornalões também encolheram de tamanho, como o JB, e aqui na Paraíba o velho chapa-branca A União. Talvez O Norte e o DB tenham que experimentar uma fase encolhida também. O importante, afinal, é que a empresa mantenha os postos de trabalho para o jornalismo, pois certamente seus profissionais são os menos responsáveis pela crise global que ataca essa empresa e tantas outras mundo afora.
O grosso das demissões se concentraram em funcionários antigos da empresa, não porque estejam ultrapassados, mas porque são donos de consideráveis fundos de garantia por tempo de serviço, mais conhecido como FGTS, que os DA teimosamente sempre detestou recolher.
Um comentário:
Dalmo, mto bem colocado e obrigada por me informar sobre esse novo conceito de jornalismo. Lá em Monteiro, no Cariri, tem um site que já está praticando isso, o Cariri Mais (www.caririmais.com.br). Vou postar em breve post sobre ele. Como complemento ao seu comentário, tu sabes o q o Sindicato dos Jornalistas da PB está incentivando aos jornalistas dos Associados? Greve. Mas é uma greve no trabalho, sentado, sem trabalhar. Não é aquela greve que a gente conhece, de mobilizar cada vez mais profissionais em seus postos de trabalho, informando a sociedade sobre o motivo da greve. É uma greve silenciosa. Parece q nossos colegas vivem a chover no molhado... rsss
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REPÓRTERES DO DB ENTRAM EM GREVE
Dois jornalistas do Diário da Borborema aderiram à greve em protesto pelo atraso de 15 dias no pagamento dos salários. Os profissionais acompanham a greve iniciada na última terça-feira (14) no jornal O Norte, de João Pessoa, pertencente também aos Associados Paraíba, que se encontra na mesma situação. Na capital, cruzaram os braços até o momento seis jornalistas.
A greve segue uma recomendação do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba, que está vendo nela o último recurso para forçar à empresa a quitar com suas obrigações patronais. Mesmo em greve, os profissionais do DB permanecem na redação, mesmo sem trabalhar, para que não sejam responsabilizados por abandono de trabalho.
Os jornalistas que pararam no O Norte são todos membros da direção do sindicato e por isso gozam de imunidade. Já os dois grevistas do DB não possuem esse privilégio. Mesmo temendo as possíveis represálias, eles afirmam que somente voltarão a trabalhar quando receber seus vencimentos. Ambos esperam a adesão de mais colegas da redação do Diário da Borborema.
(Base Cooperativa Cultural Assessoria de Comunicação)
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Ou seja, greve na Paraíba, só se faz se for imune de demissão, como é o caso da grande maioria desse irrisório grupo de jornalistas, ou quando se pretende ser demitido.
Bjs!
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