sexta-feira, abril 08, 2011

Os jornalistas e a saúde

Por Dalmo Oliveira*

O Dia do Jornalista, 7 de abril, ficou ainda mais ofuscado esse ano na Paraíba por conta das comemorações do Dia Internacional da Saúde, celebrado nesta mesma data. Nos quatro jornais impressos que circulam no estado a data da saúde hegemonizou os espaços publicitários em meio ao noticiário convencional e às propagandas de automóveis.
Apenas o jornal estatal, A União, trouxe um editorial refletindo sobre nossa categoria. Um texto aparentemente favorável, mas que no finalzinho declara uma certa dispensabilidade do diploma para o exercício da profissão. Não sei exatamente as causas, mas esse ano, injustificavelmente, o “nosso” sindicato não fez circular sua posição sobre a data.
Como estamos vivendo um momento em que a saúde pública está na ordem-do-dia, é oportuno que aproveitemos essa data para refletir um pouco sobre como anda a saúde coletiva da nossa categoria, exposta cotidianamente a todo tipo de pressão.
Nesse aspecto, acho que a saúde mental dos jornalistas no exercício da profissão continua sendo a área mais afetada nesses trabalhadores. De qualquer forma, já foram maiores os índices de alcoolismo e de uso abusivo de drogas no seio dessa categoria laboral. Problemas que empurram esses profissionais para as dependências químicas – álcool liderando com folga.
É preciso, no entanto, apontar para o foco originário dos maiores problemas mentais (ou comportamentais) desses trabalhadores: o ambiente extremamente estressante e competitivo das redações, com suas rotinas em tempo exíguo, cobranças diárias de resultados (textos) e a presença crescente do assédio moral.
Não é difícil encontrar gente que desistiu da profissão depois de alguns anos de trabalho nas redações. Jornalistas demitidos sem justa-causa, apenas por reivindicar publicamente seus direitos, ou por se aproximar da entidade sindical. Jovens repórteres humilhadas diariamente pelo assédio machista de chefes e de fontes. Rapazes e moças oprimidos e agredidos por assumirem determinada opção de sexualidade.
Some-se aos fatores psicossociais, as condições precárias e desumanas de trabalho, com cargas-horárias de até 12 horas ao dia. A necessidade de empregar-se em até quatro ou cinco lugares diferentes para tentar garantir uma vida mais digna, já que o piso-salarial dos jornalistas continua insatisfatório e aviltante.
Nossa saúde também é fragilizada em decorrência da exposição excessiva à telas de computador, aos ambientes super-refrigerados e a uma alimentação apressada e de baixa qualidade, dada a indisponibilidade de tempo para uma parada descente para a principal refeição diária.
O jornalista, assim, vai acumulando problemas neurocognitivos, gastro-intestinais, doenças da coluna vertebral, dos punhos e ombros, distúrbios da circulação sanguínea e da pressão arterial, tabagismo, alcoolismo, diabetes, cefaléias, AVCs, infartos e tantos outros males decorrentes de uma vida massacrada por um cotidiano profissional insalubre e comprometedor.
Em resumo: essa profissão é de matar!

////////////////
*Dalmo Oliveira é jornalista desde os 19 anos, formado pela UFPB, com mestrado em Comunicação pela UFPE. Foi diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba. É assessor ad hoc da Coordenação de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde.

Nenhum comentário: