Com a saída de Luciano Cartaxo e do seu secto do Partido dos Trabalhadores (PT), as eleições municipais de 2016 poderão registrar, em João Pessoa, a presença de candidatos mais ligados aos movimentos populares, sindicais e sociais. O partido, golpeado duramente pelo então único prefeito petista de uma capital na Região Nordeste (agora filiado ao Partido Social Democrático, de perfil centro-direita), deverá abrir oportunidades para lideranças mais orgânicas, identificadas com suas bases históricas.
Na prática, o ato de Cartaxo representa uma espécie de autodepuração interna no próprio PT, depois de ver abaladas suas fortes convicções populares e socialistas com os sucessivos escândalos de corrupção. Agora o partido começa um processo de resgate de suas origens, essencialmente construídas no seio da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. Em sua nítida guinada à direita, o prefeito Cartaxo lidera a debandada de segmentos que atuavam dentro do PT com uma perspectiva no partidarismo burguês e fisiológico.
Esses segmentos contaminaram ideologicamente o PT autêntico por vários anos, afastando de sua militância lideranças realmente sintonizadas com o povo, com os trabalhadores, com as comunidades de base. A tropa de Cartaxo burocratizou e cartorializou o PT na última década, hegemonizando a posse do leme programático da legenda, direcionando para composições cada vez menos por afinidade ideológica de classes, e cada vez mais baseadas num pragmatismo oportunista a cada disputa eleitoral.
Nas eleições de 2014, por exemplo, em nome desse pragmatismo, o PT paraibano se submeteu a coalizões eleitorais com legendas que fazem oposição ferrenha ao governo do partido no âmbito federal, tendo como expoente o Democratas, que defende abertamente bandeiras anti-sociais como a redução da maioridade penal e a privatização do sistema público de Saúde.
Essas composições afastaram do dia-a-dia partidário petista lideranças antigas vinculadas ao movimento negro, movimento de mulheres, movimento dos agricultores sem-terra etc. E por outro lado, deram gás aos segmentos mais reacionários dentro e fora do partido, que avançaram na defesa das pautas colocadas pelo lobby do empresariado, dos latifundiários e demais setores descompromissados com as lutas sociais históricas defendidas pelo PT.
Em 2016 o PT precisará se reinventar e afastar, definitivamente, a imagem de que se tornou apenas mais uma sigla partidária no balaio eleitoreiro brasileiro. Seu comitê de ética precisa trabalhar como nunca para identificar as práticas fisiológicas que facilitam os processos antidemocráticos e que atentam contra o paradigma da representação popular no sistema republicano.
O breve verão na gestão municipal de João Pessoa pode lhes servir como antidoto ao poderoso veneno que se inocula naqueles que passam a exercer posições privilegiadas nos poderes Executivo e Legislativo. Para isso, o PT vai precisar inovar mais uma vez no que tange ao controle social partidário, criando dispositivos que garantam avaliações permanentes da gestão de políticas públicas pelos companheiros e companheiras que atuam no ativismo partidário.
Não se admite mais mandatos personalistas, deslocados de um monitoramento permanente daqueles que elegem os mandatários. Os mandatos do PT devem prestar contas diretamente às diversas instâncias partidárias e não apenas aos pequenos grupos arregimentados por seus titulares. Essa é a diferença básica entre um partido verdadeiramente orgânico (na concepção gramsciana) e a práxis dos partidos comuns, montados com o intuito exclusivo de favorecer corporações e coletivos centralizados em torno de um líder de orientação autoritária e /ou messiânica.
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