quinta-feira, outubro 25, 2012

A cooperativa de Hipócrates


O cooperativismo foi a maneira mais eficaz que algumas categorias de trabalhadores (ou de outros segmentos sociais) encontraram para defender seus interesses coletivos. Corporativistas por essência, essas organizações começaram a ganhar força no início do período industrial, quando o capitalismo começava a se expandir  para além das fronteiras nacionais.




Mas a exemplo do que ocorreu com outros modos organizativos, o cooperativismo também desenvolveu aspectos negativos que atingiram diretamente as garantias universais do conjunto mais amplo da sociedade. Um tipo de cooperativismo específico, aquele de prestação de serviços especializados, que torna algumas categorias detentoras exclusivas de benefícios indispensáveis à coletividade.

Na área da saúde, esse tipo de “organização” tem provocado contemporaneamente a desorganização de serviços considerados essenciais. É o que ocorre esses dias com as cooperativas de médicos e de outros profissionais da saúde, depois que a Justiça decidiu impedir que elas sejam contratadas diretamente pelo Estado para a prestação dos serviços que oferecem.

A contratação das cooperativas médicas para o serviço público da saúde tem sido responsável pela precarização nas relações trabalhistas entre Estado e médicos autônomos, numa profissão que já é por excelência afetada pela glamorização de sua práxis.

Atualmente só existem dois tipos de médicos: os que atendem através das cooperativas ou os especialistas renomados que atendem, a preço de ouro, em seus consultórios requintados. As cooperativas praticamente acabaram com a figura do médico concursado, aquele servidor público com dedicação exclusiva numa determinada unidade de saúde.

Gananciosos ao extremo, a maioria dos médicos, não querem compromissos exclusivistas com os serviços públicos de saúde. Focados no enriquecimento rápido, a grande maioria desses profissionais encontraram nas cooperativas do setor um modo legal (mas imoral) de prestar serviço em diversos hospitais e serviços de saúde. Um serviço, muitas vezes, de péssima qualidade e desumanizado.
Quando estão insatisfeitos com a remuneração os associados dessas cooperativas ameaçam paralisar suas atividades com lockouts sem que a Justiça do Trabalho tenha como mediar o conflito.

No mundo trabalhista esse tipo de organização é conhecido como uma espécie de terceirização, para driblar a legislação trabalhista e oferecer aos cooperativados a possibilidade de vender sua mão de obra precarizada a vários “patrões” ao mesmo tempo. Do ponto de vista ético, a ação das cooperativas médicas deveria ser coibida pelo Conselho da categoria, uma vez que vai de encontro, inequivocamente, ao juramento de Hipócrates.

Nenhum comentário: