terça-feira, novembro 06, 2018


Não vejo, não ouço, não falo, não penso


Parece muito sintomático que os primeiros alvos da retaliação bolsonarista sejam a Imprensa e a Universidade. É uma reação típica de líderes autoritários que têm dificuldades no relacionamento com instituições que promovem a liberdade de expressão e circulação de ideias sem barreiras.


O presidente eleito construiu sua estrada programática e discursiva em cima de bandeiras moralistas, notadamente aquelas erigidas sob a defesa dos “valores da família tradicional brasileira”. Foi nesse bojo ideológico que surgiu o “movimento” da Escola sem Partido. Uma série de contestações às pedagogias críticas, vinculadas ao pensamento social desenvolvido por pensadores da Esquerda, leia-se: marxismo e suas derivações libertárias, comunistas e socialistas.
Evidentemente, essa disputa narrativa foi travada no campo da cultura, bem mais do que na seara meramente política. Guardadas as devidas (e históricas) proporções, pode estar começando a ocorrer no Brasil algo parecido com a famosa revolução maoísta, iniciada na China a partir de 1966, quando foi deflagrada uma intensa campanha popular, com majoritária participação da juventude, que se caracterizava por um feroz anti-intelectualismo de matriz ocidental.
Entendendo a intelectualidade brasileira como um campo dominado por opositores ideológicos do bolsonarismo, o deputado do PSL e seus adeptos passaram a mirar as instituições de Ensino Superior como principal refúgio de uma possível resistência a seu futuro regime. Não foram à toa as ações desencadeadas pela Polícia Federal, por incitação do Ministério Público eleitoral, na última semana antes das eleições do segundo turno, em diversos campi universitários, buscando e apreendendo material impresso, supostamente, pró-Haddad.
A anunciada transferência da Secretaria de Ensino Superior, do MEC para o Ministério da Ciência e Tecnologia, é outro sinal inequívoco da intensão de desmantelamento que o governo Bolsonaro poderá promover no setor educacional brasileiro nos próximos anos. A escolha do astronauta ministro-espetáculo para essa pasta também é uma estratégia de hiper-visibilização da gestão do ex-capitão.
A Folha é dos Frias
Tudo começou com a reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, de autoria da repórter Patrícia Campos Mello, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, no dia 18 de outubro, sobre uma suposta compra de impulsionamento (disparos de mensagens em larga escala) no aplicativo de comunicação instantânea. Desde então, o próprio Bolsonaro passou a ameaçar o jornal, inclusive numa entrevista ao vivo no Jornal Nacional, da Rede Globo, no dia seguinte ao resultado da eleição.
Essa semana, o grupo Folha fez circular nota oficial negando mais uma vez o fake de que o jornal paulistano teria 52% de suas ações pertencentes ao ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A estratégia de intimidação à mídia nacional já começa a surtir efeito com os grupos da Rede Recorde e do SBT sinalizando abertamente o apoio à futura gestão do Palácio do Planalto. As empresas vinculadas à Igreja Universal do Reino de Deus entraram na “parceria” bem antes. Já o conglomerado de Silvio Santos acaba de lançar spots de apologia aos neonacionalistas.
A intencionalidade do futuro governo parece óbvia: desestimular o pensamento crítico na sociedade brasileira. Muitos vão fingir que não estão entendendo, outros que não estão vendo ou ouvindo direito. E uma acintosa “lei do silêncio” vai sendo introjectada pelos que ainda têm juízo. Simples assim.
Paraibanos comemoram Dia Internacional da Palavra*
Em 23 de novembro se comemora o Dia Internacional da Palavra, e para marcar a data alguns ativistas culturais paraibanos estarão promovendo eventos como o sarau poético musical que ocorrerá em Campina Grande, no campus da UFPB, sob a coordenação do artista plástico e poeta Josafá de Orós.
Em João Pessoa, a Academia de Cordel do Vale do Paraíba integrará uma programação internacional que envolve 150 países em torno do Dia da Palavra, promoção do Museu de La Palabra, de Barcelona, Espanha. A principal atividade é a produção do programa “Sarau da Palavra”, que será veiculado pelas rádios Zumbi e Fênix de João Pessoa e divulgado no Youtube, no dia 23 de novembro. “O objetivo é difundir a palavra como vínculo que a humanidade tem na luta pela paz entre os povos, e nossos poetas se expressarão com sua poesia nos mais variados temas envolvendo a palavra como verdade, vida, a palavra e o silêncio, a palavra contra a guerra, a palavra contra o fascismo e pela paz”, esclareceu Marconi Araújo, Presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
Em 2017, os poetas Fábio Mozart, Dalmo Oliveira, Thiago Alves, Josafá de Orós e Sander Lee receberam o diploma de embaixadores da palavra através da Fundación César Egido Serrano, de Barcelona, pela atuação na campanha do Dia Internacional da Palavra, representando a Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
*com informações de Fábio Mozart.

Nenhum comentário: