Não
vejo, não ouço, não falo, não penso
Parece
muito sintomático que os primeiros alvos da retaliação
bolsonarista sejam a Imprensa e a Universidade. É uma reação
típica de líderes autoritários que têm dificuldades no
relacionamento com instituições que promovem a liberdade de
expressão e circulação de ideias sem barreiras.
O
presidente eleito construiu sua estrada programática e discursiva em
cima de bandeiras moralistas, notadamente aquelas erigidas sob a
defesa dos “valores da família tradicional brasileira”. Foi
nesse bojo ideológico que surgiu o “movimento” da Escola sem
Partido. Uma série de contestações às pedagogias críticas,
vinculadas ao pensamento social desenvolvido por pensadores da
Esquerda, leia-se: marxismo e suas derivações libertárias,
comunistas e socialistas.
Evidentemente,
essa disputa narrativa foi travada no campo da cultura, bem mais do
que na seara meramente política. Guardadas as devidas (e históricas)
proporções, pode estar começando a ocorrer no Brasil algo parecido
com a famosa revolução maoísta, iniciada na China a partir de
1966, quando foi deflagrada uma intensa campanha popular, com
majoritária participação da juventude, que se caracterizava por um
feroz anti-intelectualismo de matriz ocidental.
Entendendo
a intelectualidade brasileira como um campo dominado por opositores
ideológicos do bolsonarismo, o deputado do PSL e seus adeptos
passaram a mirar as instituições de Ensino Superior como principal
refúgio de uma possível resistência a seu futuro regime. Não
foram à toa as ações desencadeadas pela Polícia Federal, por
incitação do Ministério Público eleitoral, na última semana
antes das eleições do segundo turno, em diversos campi
universitários, buscando e apreendendo material impresso,
supostamente, pró-Haddad.
A
anunciada transferência da Secretaria de Ensino Superior, do MEC
para o Ministério da Ciência e Tecnologia, é outro sinal
inequívoco da intensão de desmantelamento que o governo Bolsonaro
poderá promover no setor educacional brasileiro nos próximos anos.
A escolha do astronauta ministro-espetáculo para essa pasta também
é uma estratégia de hiper-visibilização da gestão do ex-capitão.
A
Folha é dos Frias
Tudo
começou com a reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT
pelo WhatsApp”, de autoria da repórter Patrícia Campos Mello,
publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, no dia 18 de outubro, sobre
uma suposta compra de impulsionamento (disparos de mensagens em larga
escala) no aplicativo de comunicação instantânea. Desde então, o
próprio Bolsonaro passou a ameaçar o jornal, inclusive numa
entrevista ao vivo no Jornal Nacional, da Rede Globo, no dia seguinte
ao resultado da eleição.
Essa
semana, o grupo Folha fez circular nota oficial negando mais uma vez
o fake
de
que o jornal paulistano teria 52% de suas ações pertencentes ao
ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A
estratégia de intimidação à mídia nacional já começa a surtir
efeito com os grupos da Rede Recorde e do SBT sinalizando abertamente
o apoio à futura gestão do Palácio do Planalto. As empresas
vinculadas à Igreja Universal do Reino de Deus entraram na
“parceria” bem antes. Já o conglomerado de Silvio Santos acaba
de lançar spots
de
apologia aos neonacionalistas.
A
intencionalidade do futuro governo parece óbvia: desestimular o
pensamento crítico na sociedade brasileira. Muitos vão fingir que
não estão entendendo, outros que não estão vendo ou ouvindo
direito. E uma acintosa “lei do silêncio” vai sendo introjectada
pelos que ainda têm juízo. Simples assim.
Paraibanos
comemoram Dia Internacional da Palavra*
Em
23 de novembro se comemora o Dia Internacional da Palavra, e para
marcar a data alguns ativistas culturais paraibanos estarão
promovendo eventos como o sarau poético musical que ocorrerá em
Campina Grande, no campus da UFPB, sob a coordenação do artista
plástico e poeta Josafá de Orós.
Em
João Pessoa, a Academia de Cordel do Vale do Paraíba integrará uma
programação internacional que envolve 150 países em torno do Dia
da Palavra, promoção do Museu de La Palabra, de Barcelona, Espanha.
A principal atividade é a produção do programa “Sarau da
Palavra”, que será veiculado pelas rádios Zumbi e Fênix de João
Pessoa e divulgado no Youtube, no dia 23 de novembro. “O objetivo é
difundir a palavra como vínculo que a humanidade tem na luta pela
paz entre os povos, e nossos poetas se expressarão com sua poesia
nos mais variados temas envolvendo a palavra como verdade, vida, a
palavra e o silêncio, a palavra contra a guerra, a palavra contra o
fascismo e pela paz”, esclareceu Marconi Araújo, Presidente da
Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
Em
2017, os poetas Fábio Mozart, Dalmo Oliveira, Thiago Alves, Josafá
de Orós e Sander Lee receberam o diploma de embaixadores da palavra
através da Fundación César Egido Serrano, de Barcelona, pela
atuação na campanha do Dia Internacional da Palavra, representando
a Academia de Cordel do Vale do Paraíba.
*com
informações de Fábio Mozart.
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